
Não é novidade que a exclusão digital, em especial na pandemia, é uma realidade desafiadora para milhares de alunos que necessitam de estrutura mínima com internet e equipamentos para estudar. Algumas das histórias desses estudantes, rodeadas de números e dados estatísticos, podem ser contadas, por exemplo, através da rotina do professor Arthur Cabral, 29 anos.
Semanalmente, às sextas-feiras, o professor de ciências na Escola de Referência Deputado Oscar Carneiro, na Vila da Fábrica, em Camaragibe, região Metropolitana do Recife, entrega tarefas impressas na casa de vinte estudantes.
São alunos de Arthur do 6º e 7º anos do ensino fundamental, que não podem acompanhar as aulas virtuais por não terem internet em casa, tampouco equipamentos adequados.
A história de Arthur Cabral é contada em reportagem do Diário de Pernambuco, que revela o lado cruel da suspensão das aulas presenciais nas escolas por conta da pandemia do novo coronavírus: o não acesso à educação.
Segundo o jornal, o trajeto percorrido de bicicleta pelo professor, que costuma vestir uma camisa preta com os dizeres “lute como um professor”, é longo, incomum e inspirador.
Ao jornal, Arthur disse ter notado que um grupo de estudantes não participava das aulas virtuais, iniciadas na rede pública no início de abril. Ele conta que só entendeu o motivo das ausências depois que analisou a situação, o que estimulou sua iniciativa.
“Se a educação é um direito universal, ela precisa chegar a todo mundo. Então, é isso que estou fazendo”, reflete ele.
Joelma Santos, 29, mãe de quatro crianças, uma delas aluna de Arthur, revela que precisa dividir seu celular entre os filhos para que consigam assistir as aulas e executar as tarefas colegiais diárias. “Temos somente o meu celular para eles estudarem. Então, tenho que dividir o equipamento entre os quatro filhos. Tem hora que fico louca, ajudo uma na tarefa no celular, depois ligo a televisão para o outro ver a aula. Quando saio para trabalhar, eles ficam sem ter como acessar”, explicou Joelma, que é diarista.
Aulas à distância
O problema relatado por Joelma endossa levantamento recente do Quero Bolsa. O estudo aponta a falta de acesso à internet e estrutura mínima em casa para assistir aulas à distância, em especial entre estudantes negros. Segundo análise, mais de 70% dos estudantes negros não têm equipamentos para estudo à distância.
Confira aqui íntegra da reportagem com os relatos do professor.