O movimento da cultura pop que acontece no campo do ativismo e se espalha na moda, na estética, na música, no cinema e na literatura é assunto do terceiro episódio do podcast RExistência: o afrofuturismo.
Nessa edição, o podcast abriu espaço para receber a “nave” de Kênia Freitas, formada em jornalismo, pesquisadora e professora. Ela contou ao Socialismo Criativo sobre os principais fundamentos desse movimento cultural e social de valorização da ancestralidade africana.
Kênia resume que o afrofuturismo, cujo conceito aparece pela primeira vez em 1993, “é um movimento que abrange diversas narrativas de ficção especulativa – aquela que se propõe a especular sobre o futuro ou o passado -, sempre da perspectiva negra, tanto africana quanto diaspórica”.
Cunhado pelo pesquisador branco, e crítico cultural estadunidense, Mark Dery, nos anos 90, o conceito de afrofuturismo foi reelaborado por mulheres e homens negros pensadores, como Fábio Kabral.
Nesse bate-papo, ela ainda relata que se interessou pelo tema no período em que fazia doutorado em Tecnologia da Comunicação e Estética, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), quando “muito por acaso”, diz ela, ouviu um programa de rádio que falava sobre a música negra ao redor do mundo.
Pós-doutoranda na Universidade Estadual Paulista (Unesp), ela lembra que foi um episódio sobre como jovens artistas negros ligados ao techno de Detroit (EUA) resistiam à cidade abandonada que a despertou. O programa contava como esses jovens se reinventavam, trazendo na música a experiência de viver em um espaço urbano “devastado”, que no passado foi um importante polo industrial.
“ Você tinha essa juventude negra no final dos anos 80 que estava nesse lugar e que vai de alguma forma se inventar e se entender – falar de suas questões -, a partir dessa invenção da música eletrônica que ficou conhecida como tecno na cidade de Detroit. Esses caras estavam fazendo isso, a temática das música deles era totalmente futurista, apesar de esta palavra não existir naquele momento, mas que depois foi classificada de “afrofuturismo”. Porque no lugar de falar, como muitas vezes o hip hop fala, sobre as questões sociais e raciais de uma forma muita direta, eles faziam toda uma criação de ficção científica, uma criação especulativa. Então tinha: música para a lua, música para contato com os alienígenas. E tudo numa base de bastante abstração da música eletrônica”, explica.
Mostra
Desde então, Kênia procurou investigar como essa perspectiva, que alimenta a ficção especulativa negra, era trabalhada na sétima arte. Em 2015, fez a curadoria da Mostra Afrofuturismo: Cinema e Música em uma Diáspora Intergaláctica, no então Caixa Belas Artes (hoje Petra Belas Artes), em São Paulo. A mostra contou com uma série de produções audiovisuais de ficção científica, fantásticas e até documentários voltados à experiência negra afrofuturista.
Clique na imagem para conferir os filmes afrofuturistas compilados na mostra que teve Kênia Freitas como curadora.
Além de compartilhar sua experiência de existir como mulher negra acadêmica, Kênia traz apontamentos sobre esse movimento estético-artístico que mistura fabulações, tecnologia e referências africanas pré-diáspora, com narrativas ficcionais que colocam homens e mulheres negros no centro.
Ela vai de produções do cinema estadunidense como “Pantera Negra”, que popularizou o lema “Wakanda Forever”, a produções brasileiras como “Rapsódia para o Homem Negro”, que tem roteiro, direção e montagem de Gabriel Martins. O curta-metragem trata da violência policial, articulando a luta de coletivos à religiões de matriz africana.
RExistência
O RExistência é um podcast sobre identidades políticas e corpos que incomodam. É um espaço para debater existências, conhecer histórias inspiradoras e mostrar que as mulheres, os negros, os LGBTQIA+ não estão sozinhos nessa jornada.
Assim, a primeira temporada vai ouvir histórias de sucesso, desvendar conceitos, combater preconceitos e dar voz aos oprimidos.
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