Pelo segundo ano seguido não haverá festejos de São João. Em virtude da pandemia da covid-19, o setor cultural é um dos que mais sofrem com as medidas restritivas para conter o avanço do coronavírus, o que incluir toda a cadeia produtiva que atua nas festas juninas.
Em todo o país, a economia ligada às festas de São João terá prejuízo de R$ 1,5 bilhão. Apenas no Nordeste a perda é de R$ 950 milhões, informou o Ministério do Turismo. A pasta indica ainda que 42,7% dos brasileiros viajam para o Nordeste entre junho e julho, só em Caruaru são três milhões de pessoas durante o período.
O setor hoteleiro pontua que a taxa de ocupação é de 100%. No ano passado, segundo o Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE), a taxa de ocupação no estado foi de 5 a 10%.
Porém, o impacto é muito maior quando se olha para a agricultura familiar e pequenas indústrias que têm a produção de alimentos tipicamente procurados nessa época, para os artistas que se apresentam e para o turismo. Todas atividades ligadas à economia criativa.
O São João é, em companhia do Carnaval, a maior festa cultural do Brasil. Não apenas no Nordeste, mas em todo território nacional. Não tem o mesmo apelo midiático, mas na dimensão econômica é mais significativa que a festa de Momo. Antes da pandemia, nos shoppings, o mês de junho só perdia para o Dia das Mães em questão de faturamento, ganhando até do Natal.
Estima-se que apenas nas duas maiores festas de São João do país, Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), movimentam juntas R$ 400 milhões. Em 2020, o cancelamento da festa em Caruaru resultou na perda de 12 mil empregos formais ou informais que são criados no ciclo junino.
Economia Criativa do São João
Engana-se quem acha que o São João é uma festa apenas regional. A tradição e costumes foram exportadas para todos os estados do Brasil, principalmente com a migração nordestina para as metrópoles de outras regiões.
A economia criativa do São João é uma força cultural e econômica. A confecção e a moda vai além dos trajes para as quadrilhas performarem, vai também para o público que usa camisa quadriculada, entre outras vestimentas típicas. As próprias quadrilhas que movimentam diversos profissionais, como artistas, costureiras, coreógrafos, cenógrafos que montam cenários móveis, conjuntos musicais etc.
A publicidade, as indústrias de fogos de artifícios e licor artesanal, a agricultura familiar, as barracas de comida típica, as lojas que vendem bandeirolas e artigos tradicionais de São João, empresas de transporte e até o setor hoteleiro. A pandemia prejudica todos esses setores, toda uma cadeia de produção, que vai além do dinheiro circulado, são negócios que deixam de ser gerados e pessoas que estarão desempregadas.
Debate sobre o impacto da pandemia no São João
A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) pediu audiência para debater os impactos econômicos da pandemia de Covid-19 nas tradições de Festa Junina. O evento foi realizado no dia 1o de junho pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados.
Na ocasião, a parlamentar socialista comentou que o São João gera oportunidades de empregos, movimenta a economia, sustenta artistas e ainda gera impostos.
“Em um cenário de crise, que já é anterior à desencadeada pelo coronavírus, o São João é ainda uma oportunidade para empreendedores complementarem a renda e garantir o sustento de suas famílias para um ano inteiro”.
Lídice da Mata
Prefeito João Campos antecipa o AME São João
O prefeito socialista do Recife (PE), João Campos (PSB), antecipou auxílio municipal emergencial para a classe artística que atua durante as festas juninas. O AME São João deve ser implementado nos próximos dias para os artistas que serão impedidos de trabalhar, em decorrência das suspensões das festas.
A proposta é de beneficiar cerca de 30 mil recifenses que vivem em situação crítica durante a pandemia de covid-19. A prefeitura do Recife estima R$ 6,4 milhões em investimento, procedente de crédito extraordinário.
“Nesse mês de junho, que é tão importante para a gente, principalmente aqui no Sítio Trindade, onde a gente vive todos os anos o São João, também firmamos o compromisso de, nos próximos dias, lançar o AME São João – o Auxílio Municipal Emergencial para o São João da nossa cidade. É uma importante decisão para a cultura e todos aqueles que vivem de maneira tão intensa essa manifestação, que é tão importante e presente no Nordeste e aqui no Recife também”.
João Campos