No governo do obscurantismo, as universidade públicas e centros de pesquisas foram rotulados como antros de balbúrdia. Eis que no meio da pandemia do novo coronavírus é a comunidade científica e acadêmica que tem mostrado o caminho para sair da crise: pesquisa, tecnologia, inovação, solidariedade, compartilhamento e humanismo.
Mesmo diante dos cortes orçamentários e ataques à sua imagem, as instituições federais de ensino superior e de pesquisa no Brasil desenvolvem projetos de enfrentamento à Covid-19. O Socialismo Criativo elencou seis exemplos práticos de como a balbúrdia é essencial para enfrentar a pandemia.
Respiradores
As universidades públicas brasileiras têm liderado, por exemplo, projetos para produção em massa de respiradores mecânicos de baixo custo. Os equipamentos são cruciais no tratamento de casos graves de Covid-19.
A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) lidera um projeto em fase avançada que permitirá a empresas credenciadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) montar respiradores mecânicos ao custo de R$ 1 mil. Um respirador convencional não sai por menos de R$ 15 mil.
Nos laboratórios do Programa de Engenharia Biomédica do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisadores estão desenvolvendo um protótipo de ventilador pulmonar mecânico para ser reproduzido em massa, de forma simples, rápida e barata, com recursos disponíveis no mercado nacional.
Equipamentos de proteção
Na Universidade de Brasília (UnB) foi criado o movimento “Brasília Maior do que Covid-19” (BMC). A iniciativa surgiu em apoio às forças de saúde por estudantes de engenharia e de médicos do Hospital Universitário de Brasília (HUB).
O movimento BMC reúne cada vez mais profissionais e entusiastas do ramo de fabricação e prototipagem para a produção de itens médicos essenciais para enfrentar a crise do Covid-19.
Entre os itens que podem ser produzidos pelo BMC está o escudo facial transparente, que oferece uma proteção adicional a profissionais de saúde. O projeto abriu chamado para costureiras e costureiros do Distrito Federal para confecção de máscaras e aventais hospitalares.
Computação e modelos
Também no Coppe/UFRJ, pesquisadores do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação estão desenvolvendo sistemas computacionais e modelagens para contribuir no combate ao novo coronavírus.
As ferramentas serão utilizadas por profissionais, gestores e tomadores de decisão que estão na linha de frente para reduzir os efeitos da pandemia. As iniciativas incluem sistemas de software, tecnologias e produtos que viabilizam a modelagem de equipamentos voltados para proteger profissionais da área da Saúde.
Supercomputadores
Em conjunto com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) o Coppe/UFRJ anunciou parceria com a SCALAC, gigante do setor de tecnologia, e passaram a disponibilizar, gratuitamente, o uso dos recursos de processamento de dados de seus supercomputadores para pesquisas em busca da solução para a pandemia da Covid-19.
Foi com o supercomputador do LNCC que cientistas brasileiros sequenciaram o genoma da covid-19 em pacientes das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste em tempo recorde. O estudo demonstrou que o vírus sars-cov-2 já se propagou no Brasil a ponto de apresentar características diferentes dos coronavírus que vieram de outros países.
Aplicativos
Diversas universidades públicas brasileiras, para além de testes e fabricação de equipamentos de saúde, têm se engajado na criação de aplicativos e sistemas de informática que auxiliam cidadãos no esforço contra a crise sanitária.
No Instituto de Ciências Matemáticas e Computação da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, foi criado o projeto CheckCorona. Por meio do WhatsApp, o programa disponibiliza um atendente automático inteligente que fornece informações e orienta pacientes sobre os sintomas da covid-19, realizando uma espécie de pré-triagem.
Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi desenvolvido um aplicativo para que a pessoa saiba se teve contato com um paciente infectado. O CovidApp auxilia notificando para que um indivíduo saiba se possa ter estado junto ou passado perto de alguém, como forma de identificar se a pessoa deve adotar medidas, como isolamento.
Diagnóstico
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) auxilia no processo de diagnóstico e apoio ao laboratório central de saúde pública do estado do RN, o Lacen, que está sobrecarregado frente ao crescente número de casos suspeitos. O Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas (DACT), o Instituto de Medicina Tropical (IMT) e a Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM), o Departamento de Infectologia (Dinfec) são algumas unidades integradas à essa força-tarefa.
O Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realiza entre 400 e 500 testes de diagnóstico do novo coronavírus por dia. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os pesquisadores nos laboratórios universitários têm capacidade de produzir 300 testes por dia – número que deve aumentar.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, vem produzindo kits para a realização de 30 mil testes diagnósticos da Covid-19.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também entrou na luta contra a pandemia. A estatal disponibilizará 47 laboratórios para realização de testes de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A estatal tem capacidade de analisar até 43.000 amostras por dia. O resultado sai em até 24 horas.