Após ampla repercussão negativa do gesto racista feito pelo assessor especial Filipe Martins, o alto escalão do Senado Federal encaminhou uma mensagem ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pedindo a sua demissão do posto. A mensagem foi transmitida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e por outros senadores a ministros próximos ao mandatário.
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De acordo com interlocutores, Bolsonaro se convenceu de que dificilmente conseguirá manter seu aliado no cargo e, no momento, procura uma cadeira de assessoria na Esplanada dos Ministérios para acomodá-lo.
Entenda o caso do assessor
O episódio ocorreu na última quarta-feira (25) em sessão temática com a presença do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo sobre a atuação do Itamaraty em busca de vacinas contra a Covid-19. O próprio Pacheco fazia um pronunciamento no momento em que Martins, posicionado atrás dele, juntou as pontas dos dedos indicador e polegar, em formato de “ok”, e movimentou a mão para cima e para baixo junto ao terno.
Mais adiante na sessão, o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), acusou o assessor de ter feito um gesto “obsceno” e pediu, exaltado, que ele fosse conduzido pela Polícia Legislativa para fora das dependências da Casa. Após a intervenção do amapaense, proliferaram nas redes sociais alertas de que o gesto teria sido não só obsceno, mas um aceno a supremacistas brancos.
Em sua conta no Twitter, Martins negou o fato e escreveu que apenas arrumava o paletó.
“Um aviso aos palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao ‘supremacismo branco’ porque em suas mentes doentias enxergaram um gesto autoritário numa imagem que me mostra ajeitando a lapela do meu terno: serão processados e responsabilizados; um a um”, ameaçou.
Resistência
Resistente à exoneração de Ernesto Araújo, Bolsonaro tenta negociar com a cúpula do Congresso Nacional a demissão de seu assessor racista em troca da permanência do ministro das Relações Exteriores. Segundo a CNN, o mandatário investe na tese de que a eventual demissão de Martins já seria um ponto de inflexão importante na política externa do governo. O argumento tem sido o de que o assessor é influente na definição das diretrizes da política externa.
O presidente também vem sinalizando que ele e o próprio Ernesto poderiam fazer mudanças no discurso, com nova postura na área ambiental, declarações claras em apoio à participação da China no leilão 5G e mais engajamento com o governo Joe Biden.
Histórico racista
No ofício ao ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, a bancada do PSOL aponta que esta não seria a primeira vez em que o assessor faz “alusões públicas ao repugnante, perigoso e ilegal supremacismo branco”.
“Desde abril de 2019, o assessor especial da Presidência utiliza como foto de fundo de sua conta no Twitter, uma imagem com trecho do poema que abre o manifesto do supremacista branco Brenton Tarrant, que, em março do mesmo ano, assassinou 51 pessoas em uma mesquita na Nova Zelândia. Durante seu julgamento Tarrant fez o mesmo gesto ora performado por Sr. Filipe Martins”, escreve a líder do partido na Câmara, Talíria Petrone (RJ).
A deputada aponta que o endosso público ao supremacismo branco contradiz os princípios da Constituição e se enquadra no Artigo 20 da Lei 7.716/89, que define crimes de racismo. Segundo o trecho mencionado, fica sujeito a entre um e três anos de prisão e multa quem “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
Os dez membros da bancada psolista encerram o ofício instando a Casa Civil a dar explicações ao Congresso e à sociedade brasileira sobre os atos de Martins e o posicionamento oficial do governo federal sobre o que chamam de “inaceitáveis alusões ao supremacismo branco empreendidas pelo assessor”.
Com informações da Folha de S. Paulo