A permanência de sintomas da Covid-19 em algumas pessoas que tiveram a doença, ainda que meses depois da cura, tem intrigado os cientistas. Na Europa, com o passar dos meses, o número de queixas apresentadas nos consultórios aumentou tanto que alguns hospitais decidiram criar setores especializados para acompanhar o que eles chamam de Síndrome Pós-Covid. É como se a doença tivesse se convertido em algo crônico para alguns.
Leia também: Covid-19: estudo científico revela riscos de sobreviventes
O chefe da unidade de reeducação do Hospital Foch, em Paris (França), Nicolas Barizien, informa que o centrocriou uma ala unicamente para acompanhar esse tipo de caso.
“Os pacientes têm um impacto real na qualidade de vida, no cotidiano, com sintomas que muitas vezes fazem com que sejam incapazes de levar uma vida normal. Eles descrevem uma sensação de falta de ar, mesmo com um esforço mínimo.”
Nicolas Barizien
Sequelas incluem falta de paladar
Um dos casos mais significativos é o de uma professora francesa chamada Vèronique Le Thiec. Nove meses depois de ter sido infectada pela doença, ela ainda não conseguiu recuperar o paladar nem o olfato.
As queixas mais comuns, no entanto, têm relação com falta de ar e problemas cardiorrespiratórios. São citadas, por exemplo, tosse ou opressão no peito. “Eles descrevem uma sensação de falta de ar, mesmo com um esforço mínimo”, comentou Barizien.
Em situações assim, é comum o hospital realizar testes cardíacos de esforço para investigar suspeitas de hiperventilação. Uma das teses é a de que pessoas infectadas pela Covid, mesmo após curadas, desenvolvam uma inadaptação da frequência cárdiaca e da respiração. Uma rotina de atividades física passou a ser prescrita para essas pessoas.
“O que recomendamos é que as pessoas permaneçam ativas e façam um pouco de atividade física. Pode ser simplesmente andar meia hora por dia e fazer alguns exercícios de reforço muscular em casa, para não prejudicar ainda mais condicionamento físico depois da doença.”
Nicolas Barizien
Outras queixas incluem refluxo, diarreia ou aceleração do trânsito intestinal. Dores de cabeça frequentes, sensação de mal-estar, problemas de concentração e memória curta também são relatados pelos pacientes que buscam ajuda médica.
Pacientes com versão leve da doença
Os primeiros da casos da Síndrome Pós-Covid começaram a chegar ao Hospital Foch no fim do primeiro lockdown vivenciado em Paris, em maio do ano passado. Muitos dos pacientes que procuraram atendimento tinham apresentado versões leves da Covid-19. Alguns deles sequer chegaram a precisar de atendimento hospitalar na época.
Ainda de acordo com Barizien uma série de exames foram prescritos a estes pacientes. Entretanto, por diversas vezes os resultados não apresentaram nenhuma alteração, apesar das pessoas sentirem impactos reais na qualidade de vida.
Pesquisas continuam
Desde o ano passado, alguns hospitais europeus têm se especializado em atender pacientes com Síndrome Pós-Covid. Os casos também são investigados por centros de estudos médicos.
Algumas pesquisas com foco em reunir todas as informações com o objetivo de traçar um mapa capaz de orientar os tratamentos estão em curso, mas ainda não há dados conclusivos.
“Acontece algo com eles depois da infecção, que ainda não entendemos exatamente o que é. Mas sim, alguma coisa acontece”, disse Barizien.
Até o momento o que se observa é que vários pacientes têm um perfil relativamente similar. Por exemplo, as mulheres de 25 a 60 anos são maior número entre aqueles que buscam acompanhamento no hospital pariense para tratar Síndrome Pós-Covid. A maioria delas está acima do peso ou tem outras doenças como diabetes.
Com informações do Viva Bem UOL