
Em artigo ao jornal Valor Econômico “Tem um negro na minha vaga“, a procuradora do Trabalho Ana Lúcia Stumpf González aborda as questões afirmativas no mercado de trabalho a partir do episódio do programa de trainee da Magazine Luiza. Segundo ela, ao crer que a meritocracia explica a ausência de negros em altos cargos é acreditar em teorias de supremacia racial.
A reação gerada com a divulgação do programa de trainee da Magazine Luiza, direcionado a jovens negros, novamente colocou em lados opostos os defensores das medidas. Ela relembra sobre a realidade inescapável: hoje há uma distância entre brancos e negros no mercado de trabalho, mas há pessoas que enxergam essas medidas de forma contrária ao princípio da igualdade, por vez citando o racismo reverso.
A Procuradora destaca que a legalidade da forma de seleção proposta, também realizada por várias outras grandes empresas, já foi reconhecida em Nota Técnica do Ministério Público do Trabalho (MPT), de 2018, reafirmada em Nota Pública, em 22/09, e conta com a chancela do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para quem enxerga racismo reverso no programa da Magazine Luiza e acredita que não deveriam existir cotas, é importante propor algumas reflexões que vão além da meritocracia, que não é o suficiente para eliminar os efeitos do racismo. É preciso lembrar que o desempenho como ferramenta de medição do mérito só funciona quando o ponto de partida é idêntico para os candidatos.
Representatividade importa
Para Ana Lúcia Stumpf González some-se a isso o fator da representatividade. O jovem branco se sente merecedor e vivencia pertencimento ao se imaginar em cargos de chefia: desde cedo, ele vê que presidentes da República são brancos, juízes são brancos, âncoras de telejornal são brancos, e por aí vai.
O jovem negro não tem esses referenciais, e a ficção é pródiga em ilustrar a posição do negro em papéis de subalternidade e marginalidade, situação que apenas recentemente vem se modificando e que depende não só da presença de protagonistas negros em produções audiovisuais, mas também de profissionais negros em atividades como direção, roteiro e produção.
Na verdade, o que causou perplexidade na seleção da Magalu foi o fato de que parte da população branca se sente ameaçada, para ela aquelas vagas que deveram ser naturalmente consideradas suas, porque sempre foi assim. Foi o que se viu no início das políticas de reserva de vagas nas universidades, muitos estudantes brancos reprovados diziam: esse cotista pegou a “minha” vaga.
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