Pelo quarto mês consecutivo, em abril, em mais da metade das negociações com as empresas os trabalhadores saíram perdendo. Isso porque a maioria dos reajustes conseguidos ficou abaixo da inflação acumulada em um ano, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Na prática, os trabalhadores veem seu poder de compra reduzido, já que os salários não acompanham a alta dos preços – da comida à conta de luz e combustível, por exemplo. A lei não permite a redução das remunerações. Mas sem aumento real – quando o ajuste supera a inflação -, o resultado final é um salário com o qual se compra menos.
O mesmo ocorreu com o reajuste do salário mínimo este ano, que passou de R$ 1.045 para R$ 1.100. De acordo com a inflação oficial, o piso deveria ter subido para R$ 1.102, dois reais a mais do que foi concedido. Política bem diferente da adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em benefício de seu próprio salário e de um seleto grupo de servidores em um país em que quase 20 milhões de pessoas passam fome.
Metade dos reajustes tiveram perda real
Nos acordos e convenções de categorias com data-base em abril, o reajuste médio ficou em 5,6%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses até março, usado como referência para essas negociações, estava em 6,9%.
De janeiro a abril, a variação real média ficou negativa em 0,57%, segundo o Dieese. Os dados indicam ainda que metade dos reajustes resultou em perdas iguais ou superiores a 0,18% para os trabalhadores. Somente 12,3% das negociações fechadas no período garantiram reajustes acima da inflação. Quase seis em dez (58,7%) terminaram com índices inferiores ao da inflação.
Setor de serviços foi o mais prejudicado
Na divisão por segmento econômico, o setor de serviços foi aquele com o maior número de acordos com reajuste abaixo do INPC. No primeiro quadrimestre de 2020, 71,7% das negociações não chegaram a repor as perdas da inflação. Na indústria, o percentual foi de 46,8%, e de 35,9% no comércio, segundo o Dieese.
A escalada da inflação deve agravar ainda mais as condições para as negociações e coincide com um período de concentração de datas-base, que é o mês de maio, quando, no dia 1º, se comemora o Dia do Trabalhador. As categorias que estão em negociação precisarão de reajustes de pelo menos 7,59% para compensar o INPC acumulado em 12 meses até abril.
Em maio, o índice chegou a 8,9%. O índice apura a variação de preços e os pesos das despesas para famílias com renda entre um e cinco salários mínimos, e é o mais usado nas negociações de reajuste. A inflação oficial, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), ficou em 8,06% no mesmo período.
Inflação alta e precarização do emprego
Para o economista André Braz, coordenador de índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a inflação começará a recuar no segundo semestre. Mas continuará distante do teto da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional, de 5,25%.
A análise feita pelo Salariômetro, da Fipe, indica aumento, nos próximos meses, do número de acordos e convenções com cláusulas de manutenção de emprego para acolher a renovação do programa que permite a suspensão de contratos ou a redução de salário e jornada.
Criado no ano passado como política de manutenção de empregos formais, o programa foi reeditado neste ano por meio da Medida Provisória 1.045. Por até quatro meses, o trabalhador recebe um complemento salarial chamado BEm (benefício emergencial), pago pelo governo federal e calculado com base no seguro-desemprego.
Com informações da Folha de S. Paulo