Em sua recusa em reconhecer a derrota na eleição, Donald Trump vem conseguindo reunir o apoio dos principais nomes do Partido Republicano em Washington. O mais importante líder da maioria no Senado, Mitch McConnell tentou revestir de normalidade legal o ataque sem precedentes à transição pacífica de poder e endossou discurso de Trump pela revisão dos votos no país após perder para o democrata Joe Biden.
Na terça, em mais uma dissociação com a realidade, Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, disse em uma entrevista coletiva que “haverá uma transição tranquila para uma segunda Administração Trump”, ante jornalistas atônitos.
Nas últimas horas, Joe Biden foi felicitado pelo presidente da França, pelo primeiro-ministro do Canadá e pelo primeiro-ministro de Israel. Poucas horas antes das palavras de Pompeo, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, falou com Biden por telefone para parabenizá-lo.
Alguns republicanos abraçaram totalmente o discurso de que há “votos ilegais” e que, na realidade, Trump ganhou as eleições. Outros, como McConnell, não foram tão longe, mas justificam a atitude de Trump com um revestimento de legalidade e normalidade.
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Em um discurso no Senado no início da semana, McConnell, o republicano mais poderoso de Washington, defendeu o direito do presidente de entrar com ações legais para pôr em dúvida o resultado. “Temos um ou dois Estados que estão a caminho de uma recontagem”, acrescentou McConnell.
Na última sexta-feira (8), o senador republicano já havia postado em seu Twitter uma mensagem que colocava em xeque os reais votos válidos.
“Veja como isso deve funcionar em nosso grande país: Todos os votos legais devem ser contados. Quaisquer cédulas enviadas ilegalmente não devem. Todos os lados devem começar a observar o processo. E os tribunais estão aqui para aplicar as leis e resolver disputas. É assim que os votos dos americanos decidem o resultado”, escreveu.
Votos na Geórgia
É muito provável que o resultado na Geórgia seja tão apertado que exija uma recontagem. As recontagens nos Estados Unidos às vezes encontraram erros, mas geralmente se reduzem a algumas cédulas. Nunca mudaram um resultado eleitoral de milhares de votos. Além disso, a Geórgia é irrelevante para os números finais de Biden sobre Trump.
“Nenhum Estado certificou ainda seus resultados eleitorais”, resumiu McConnell para não reconhecer a vitória de Joe Biden. No mesmo discurso, McConnell vangloriou-se de que os republicanos conseguiram defender momentaneamente sua maioria no Senado e reduzir a maioria democrata na Câmara dos Representantes.
O nome desses senadores e deputados estavam nas mesmas cédulas de Biden e Trump, aquelas que não foram certificadas e que a equipe jurídica do presidente pretende questionar nos tribunais.
Trump aposta em teoria da conspiração
McConnell, portanto, adota a linguagem de Trump, mas apenas em seu aspecto mais evidente: os votos têm que ser legais e ele tem o direito de pedir uma recontagem. Em suas palavras, ele não assume as acusações de fraude ou roubo das eleições, algo de que ninguém apresentou a menor prova durante uma semana.
Com suas declarações, fica garantido que os principais republicanos no poder em Washington continuarão a fazer coro com a teoria da conspiração lançada pelo presidente para se negar a aceitar o resultado da eleição. Ninguém vai contradizê-lo.
Outros republicanos, como o senador Mitt Romney e o último presidente republicano antes de Trump, George W. Bush, parabenizaram Biden no momento em que houve um consenso nas projeções da mídia, como é tradição.
Bases unidas por mais 2 meses
As contradições entre desejos e realidade explodiram no Partido Republicano da Geórgia. Os senadores republicanos David Perdue e Kelly Loeffler escreveram uma carta pública pedindo a demissão do secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, por causa de uma eleição que consideram “uma vergonha”. Raffensperger, como todo o governo da Geórgia, é republicano.
O responsável pelas eleições respondeu dizendo que as críticas e o pedido de demissão eram “risíveis”. O governador, Brian Kemp, também adotou a linguagem de Trump, enquanto o vice-governador disse não ter visto nenhuma evidência de irregularidade.
Os republicanos precisam manter essas bases ativas e mobilizadas por pelo menos mais dois meses para defender sua maioria no Senado.
Qualquer um que aspire a ganhar uma eleição, e qualquer um que aspire a liderar o partido em 2024, precisa da bênção de Trump, pelo menos no curto prazo. Ninguém se pode dar ao luxo de aparecer como um traidor. Trump permanece presidente até 20 de janeiro ao meio-dia.
Com informações do El País