O cenário de devastação é algo que Jorge Salomão vai se lembrar para o resto da vida. O veterinário de Jundiaí (SP) percorreu mais de 1,6 mil quilômetros até a cidade de Poconé (MT) para atuar como voluntário no resgate de animais afetados pelas queimadas históricas que atingem o Pantanal brasileiro.
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Em meio ao fogo e à fumaça, ele e uma equipe de veterinários, ativistas e biólogos percorrem as áreas destruídas em busca de animais sobreviventes.
“Começamos todo dia de manhã e paramos somente à noite. Estou nessa rotina há mais de 20 dias e não pretendo parar tão cedo”, conta.
Jorge trabalha há quase 15 anos com animais silvestres, entre eles, principalmente, a onça-pintada. A espécie, ameaçada de extinção, é considerada o maior felino das Américas e luta pela sobrevivência em meio às chamas que consomem o Pantanal.
Resgates
No último domingo (13), o Fantástico mostrou um dos resgates da equipe de Jorge. Ele realizava buscas pelo Parque Estadual Encontro das Águas quando avistou Ousado, uma onça pintada que costumava ser conhecida na região por se aproximar dos barcos.
O felino estava caído e com as patas queimadas. Ele apresentou postura agressiva e precisou ser anestesiado para que fosse retirado do local. Depois, foi levado até um hospital veterinário em um helicóptero da Marinha.
“É um cenário devastador. Acho que é uma cena que eu jamais vou esquecer. Isso jamais vai sair da minha cabeça. Estamos encontrando muitos animais desidratados e com fome”, relata.
A rotina é árdua. Jorge explica que os voluntários passam o dia todo vasculhando a área atingida pelo fogo em busca de sobreviventes. O calor e a fumaça não os impedem de levar ajuda para aqueles que não têm para onde fugir.
“Fora os resgates, também estamos montando cochos de água em certos locais para que esses animais possam se hidratar e deixamos comida também. Nessa situação, eles não têm para onde ir, não têm o que comer e nem água para beber”, diz.
Mobilização
A mobilização de ativistas, veterinários e biólogos se espalhou por todo o país. No interior paulista, além de Jorge, uma equipe da Associação Mata Ciliar saiu também de Jundiaí rumo às queimadas.
“Estamos levando toda a ajuda possível. Sabemos que somos apenas um grão de areia no meio desse deserto de devastação, mas precisamos unir forças para amenizar a dor dessa perda tão imensa”, diz.
Fundos para o salvamento
Por meio de campanhas nas redes sociais, a associação levanta fundos para a compra de medicamentos e ferramentas que ajudam no trabalho de salvamento.
“Nós recebemos muita ajuda de apoiadores e pessoas que estão sensibilizadas com essa causa. Das autoridades, não recebemos nada”, explica.
A esperança em conseguir ajuda das esferas maiores foi algo que deixou de passar pela mente de Jorge há alguns dias também. O reforço de colegas de profissão é o que faz o grupo manter o trabalho durante todo esse tempo.
“Tudo que foi e está sendo feito não é suficiente. Já queimou grande parte e, infelizmente, o que não queimou ainda vai queimar. Esperamos que, com essa tragédia, ano que vem as atitudes sejam diferentes, que trabalhem com preventivo”, afirma o veterinário.
Fogo devastador
O fogo que avança com rapidez pelo Pantanal é considerado um dos mais devastadores da história do bioma. No mês de setembro, até o dia 16, foi registrado o maior número de queimadas desde o início do monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1998.
Foram 5.603 focos de calor detectados em apenas 16 dias, contra 5.498 registrados no mês inteiro de setembro em 2007 – o recorde para o mês até este ano.
Segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), já são mais de 2,3 milhões de hectares atingidos por queimadas.
Com informações do G1