A eventual vitória do candidato democrata Joe Biden na eleição presidencial dos EUA tiraria o acesso privilegiado do presidente Jair Bolsonaro à Casa Branca, mas não levaria a uma ruptura de relações diplomáticas entre as nações, diz Matias Spektor, professor de relações internacionais da FGV.
“Haverá grupos dentro do Partido Democrata que vão colocar pressão sobre a relação com Brasil, sobretudo nas questões de direitos humanos e ambiental”, disse Spektor em “Live” do Valor na sexta-feira.
Ele esclarece, porém, que o Brasil seguiria a ser observado pela relação com a China. “Um dos principais temas de política externa de Biden é a ascensão da China. E no contexto da presença chinesa na América Latina, o Brasil é um jogador super importante para os Estados Unidos.”
Mesmo assim, Bolsonaro teria dificuldade para negociar com os EUA nesse contexto.
“Mesmo que a Casa Branca tenha interesse em manter uma relação construtiva com o Brasil, o espaço que o Biden teria para acomodar o Bolsonaro seria reduzido.” Do lado brasileiro, a vitória do democrata poderia dar um incentivo para que a chinesa Huawei participe da licitação do 5G prevista para 2021, opinou.
Enfraquecimento da relação Brasil e EUA
Ao mesmo tempo, alguns avanços colhidos na área comercial entre Brasil e EUA podem perder fôlego. “O movimento que tem acontecido até agora de progresso na área comercial com os EUA pode subir no telhado, embora os grupos privados americanos possam continuar a exercer pressão. O mesmo deve acontecer com a candidatura brasileira à OCDE.”
A prisão de Steve Bannon, ex-estrategista de campanha de Donald Trump, é um golpe no uso de redes sociais como estratégia política, diz ele.
“É uma pá de cal na estratégia eleitoral [iniciada por Trump e copiada pelo bolsonarismo].” Além disso, o ocorrido traz um elevado caráter simbólico, segundo ele. “No momento em que o bolsonarismo enfrenta escândalos de corrupção no seu seio, esse símbolo ficou muito poderoso.”
Segundo ele, o declínio da prática no Brasil, porém, está mais ligado à ação do Supremo Tribunal Federal. “Quando o STF partiu para cima dos ícones on-line do bolsonarismo, reduziu esse espaço na política.”
Com informações do Valor Econômico