
Em um início tumultuado de reunião da CPI da Pandemia no Senado, o depoimento do deputado bolsonarista Luís Miranda (DEM-DF) e do irmão Luis Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde, é uma das mais tensas e tumultuadas até o momento.
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), chegou a ficar rubro de irritação depois de gesticular e gritar e deixar a máscara fora do nariz durante a fala do deputado Miranda sobre o histórico das negociações.
Socialistas comentam CPI
O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), comentou: “O governo está tremendo na base”.
O líder da Minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSB-RJ), comentou o destempero do líder do governo no Senado.
O deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA) avalia que o escândalo Covaxin só aumenta. “O deputado Luís Miranda afirma que o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, foi alertado sobre o possível caso de corrupção na compra de vacinas e ignorou”, escreveu.
Sócio da Precisa fez contato com servidor da Saúde
O empresário Fernando Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, representante legal da Bharat Biotech, fabricante da vacina Covaxin, fez contato direto com o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda. A empresa é investigada pela CPI.
“Nunca recebi uma ligação de ninguém, de diretor, de ninguém. Já nesse [caso], meu amigo, o que tem gente em cima pressionando”, relatou o servidor público, que denuncia irregularidades na compra da Covaxin pelo governo federal. Ele recebeu a ligação de Maximiano em um sábado de manhã. “Não sei quem deu meu telefone para ele, deve ter sido o coronel Pires”, completou.
O militar chefiava desde janeiro a Diretoria de Programas do ministério, mas foi exonerado em meados de abril após a chegada do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Assista à CPI da Pandemia
Acompanhe no Socialismo Criativo
CPI vai investigar suspeita de corrupção
Luis Ricardo Miranda é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Ele relatou ao Ministério Público Federal e à imprensa ter recebido pressões para acelerar o processo de compra da Covaxin, da empresa indiana Bharat Biotech.
A negociação está sob suspeita em razão do valor unitário das vacinas, considerado elevado, em torno de R$ 80, e da participação de uma empresa intermediária, a Precisa Medicamentos. Em entrevista ao jornal O Globo, Luis Ricardo disse ter alertado o presidente Jair Bolsonaro sobre as suspeitas. O governo nega qualquer irregularidade.
Leia também: Corrupção na compra da vacina Covaxin? Bolsonarista diz que sim
O requerimento convocando os depoentes foi do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Renan e o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), relataram preocupação com a segurança dos depoentes. Aziz solicitou à Polícia Federal proteção para os irmãos.
Em pronunciamento na quarta-feira (23), Onyx Lorenzoni, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, atacou o deputado e anunciou processo administrativo disciplinar contra o servidor. “Deputado Luis Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor não vai só se entender com Deus, vai se entender com a gente também”, disse Onyx.
Ameaça de Onyx também será investigada
Para o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Onyx pode ter cometido crime previsto na Lei 1.579, de 1952, que regula o funcionamento das comissões parlamentares de inquérito — especificamente o inciso I do artigo 4º: “Impedir, ou tentar impedir, mediante violência, ameaça ou assuadas, o regular funcionamento de comissão parlamentar de inquérito, ou o livre exercício das atribuições de qualquer dos seus membros”.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) defendeu Onyx, alegando não ter visto ataque específico à CPI. Eu não vi em momento nenhum ele ameaçando ou insinuando algo sobre a CPI. Cabe ao Luis Miranda buscar a Justiça para fazer o que é justo, mas não usar a CPI para ser intermediário.
O senador Jorginho Mello (PL-SC) defendeu o governo. “Não foi adquirido nada, não foi pago um real. Assim que soube [das suspeitas], o presidente da República determinou ao ministro [Eduardo] Pazuello que verificasse. Como não tinha nada de errado, a coisa continuou.”
Com informações Agência Senado