
A economia criativa tem o poder de reduzir as desigualdades socioeconômicas, gerar renda e preservar o meio ambiente. É o que avaliam a professora Ana Carla Fonseca mestre em economia e em Administração e doutora em Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP), e o prefeito de Maceió, João Henrique Holanda Caldas, conhecido como JHC. Eles participaram do sexto debate sobre a Autorreforma do PSB, nesta segunda-feira (28), que debateu “Economia criativa e cidades criativas”.
“A gente percebe que é uma economia que não só tem valor agregado, mas valor compartilhado na lógica da redução das desigualdades. Se a gente não tiver uma distribuição mais equânime, dentro da lógica de redução de desigualdades, a gente não vai ter o desenvolvimento dos setores. Em um mundo cada vez mais automatizado, o diferencial, cada vez mais, é justamente o que nos torna humanos.”
Ana Carla Fonseca
Ela afirma ainda que quando se discute a inserção das cadeias brasileiras nos valores agregados, como está na Autorreforma, não há como não trabalhar a imagem do Brasil no exterior, que vem sendo muito deteriorada nos últimos tempos.
Potência criativa das pequenas cidades
Ana Carla lembra a tendência histórica de migração no Brasil, quando as pessoas precisam deixar suas cidades em busca de oportunidades. E, acredita que algo precise ser feito para manter os talentos nas pequenas cidades do Brasil. Apenas 665 dos mais de cinco mil municípios do país, têm mais de 50 mil habitantes.
“Isso repercute de forma estrutural no que seria um esvaziamento das possibilidades de transformação dos pequenos municípios quando percebemos que muitas dessas pessoas saem não por desejo, mas por constarem que ali não há como se desenvolverem. Se nós revertemos essa lógica, pensarmos o que há de singular nessas pequenas cidades e criarmos as condições para que sejam cidades mais criativas, ainda que pequenas, esses talentos vão deixar de migrar porque o protagonista da cidade é o cidadão.”
Ana Carla Fonseca
Como exemplo, citou Montreal, no Canadá. Na cidade, a própria população pode acessar um escritório de design público com o intuito de trabalhar inovação em qualquer setor. “Há todo um arcabouço de realocação de recursos dentro de uma lógica de vocação das nossas cidades e singularidades dos pequenos contextos”, salienta. Dessa forma, a cidade se torna mais atrativa e ao mesmo tempo espaço de desenvolvimento criativo com conexões mais fluidas entre os diversos setores.
Sustentabilidade deve recuperar o que foi degradado
Além disso, afirma que é preciso defender a sustentabilidade a partir da recuperação do que foi degradado ao longo de décadas. “Mais que defender a sustentabilidade, que significa deixar de gastar ativos que vão fazer falta para outras gerações, cada vez mais o que nós temos que defender a regeneração do que já foi perdido”, disse se referindo à Amazônia.
“Regeneração socioeconômica do vem sendo exaurido ao longo dos tempos”, resume. Foi de Ana Carla a primeira tese sobre cidades criativas no Brasil. Tem MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral, é professora convidada no Brasil – na FGV –, na Argentina e na Espanha.
Experiência criativa socialista
O prefeito de Maceió, JHC, avalia que a economia criativa é uma boa maneira de geração de emprego e renda, com oportunidades para que todas as pessoas possam exercer sua criatividade no desenvolvimento das cidades e para o seu próprio crescimento.
“Compreendemos que essas podem ser portas de desenvolvimento. Transformar o empreendedorismo criativo em política pública estruturada de maneira estruturada que podem se transformar numa forma de desenvolvimento econômico e social para nossa cidade.”
JHC
Para isso, ele afirma que também é necessário um arcabouço legal para respaldas as iniciativas para poder destinar os orçamentos públicos para o desenvolvimento da criatividade.
Para ele, a economia criativa tem a possibilidade de desenvolver economicamente a região e, também, preservar a cultura local. “Estamos estruturando estratégias para criar uma cidade criativa, com polos gastronômicos, centros de excelência para os jovens receberem estímulos e se dedicarem, como games e teatro, e exporem sua criatividade”, conta JHC.
Parcerias para economia circular
O prefeito de Maceió cita o beneficiamento da casca de sururu, marisco muito popular no Nordeste e patrimônio imaterial da região. O Cobogó Mundaú nasceu do projeto “Maceió Mais Inclusiva Através da Economia Circular – Cooperação Técnica” do BID Lab, o Laboratório de Inovação do Grupo BID, em parceria com o Instituto A Gente Transforma, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) e a Prefeitura de Maceió.
Os cobogós são feitos a partir da casca do sururu tem diversas utilidades em construções, como aumentar a ventilação e a luminosidade no interior de ambientes. As peças têm o desenho inspirado na concha do próprio animal. As possibilidades são inúmeras e têm potencial de gerar renda e reduzir os resíduos gerados pela pesca, que chega a mais de 300 toneladas por mês.
Autorreforma do PSB
Os debates para a construção do novo programa do PSB ocorrem há cerca de dois anos. As 577 teses do Livro 4 da Autorreforma serão a base para o novo documento que será submetido ao Congresso Nacional dos socialistas, previsto para ser realizado entre os dias 26 e 28 de novembro deste ano.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, destaca a importância dos debates para a construção do projeto nacional de desenvolvimento defendido para o país.
“Autorreforma é um processo que, dialeticamente, está se desenvolvendo no futuro, mas que começa no presente.”
Carlos Siqueira
O principal objetivo das discussões em curso é a apresentação de soluções concretas e inovadoras para o país nos âmbitos econômico, social, cultural e ambiental, por meio de um Projeto Nacional de Desenvolvimento.
O livro 4 da Autorreforma está dividido em cinco eixos principais: Reforma do Estado; Economia: prosperidade, igualdade e sustentabilidade; Desenvolvimento sustentável e economia verde; Políticas sociais e cidades criativas; e Socialismo criativo, democracia e o partido que queremos.
Cidades Criativas na Autorreforma
O PSB defende que o direito à cidade seja traduzido em um planejamento que ofereça aos cidadãos uma reforma urbana criativa, sustentável e igualitária, principalmente em meio a reforma tecnológica que estamos vivendo.
Segundo as teses da Autorreforma, o primeiro desafio de uma cidade criativa no Brasil é o enfrentamento da desigualdade social. Para os socialistas, uma cidade criativa é aquela que busca por meio da inovação soluções para prosperidade econômica e o bem-estar dos seus cidadãos.
“A cidade criativa une os interesses particulares aos interesses coletivos, o local ao global e o privado ao público, em torno de um sonho coletivo, além disso organiza políticas públicas e formata planos e eixos de desenvolvimento urbano baseados na criatividade, na inovação, na sustentabilidade e na participação da sociedade.”
Autorreforma do PSB
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