
Por Marcelo Hailer
Nesta sexta-feira (29) o Programa Bolsa Família realizou o pagamento de sua última parcela, o que pode ser entendido como o fim de uma era.
Todavia, o fim de uma era não significa necessariamente que uma outra vai se iniciar, pois, o Auxílio Brasil, programa do governo Bolsonaro que visa substituir o Bolsa Família, ainda está cercado de incertezas quanto a sua viabilidade.
Ao longo de 18 anos, o programa Bolsa Família, criado nos governos do PT (200-16), já foi considerado como um dos melhores no mundo e um modelo a ser replicado em outros países no que diz respeito a políticas de distribuição de renda.
Atualmente, são (eram) atendidos pelo programa Bolsa Família 14,84 milhões e os beneficiários agora só vivem de incertezas sobre o programa substituto.
Estudo divulgado pelo Ipea em 2019 apontou que, em 2017, as transferências do programa retiraram 3,4 milhões de pessoas da pobreza extrema e outras 3,2 milhões da pobreza.
O levantamento também indica que, entre 2001 e 2015, o Bolsa Família respondeu por uma redução de 10% da desigualdade no país.
Em 2020, um relatório publicado pelo Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do Ministério da Economia, em 2020, apontou que o programa obteve sucesso em reduzir a pobreza no Brasil de “modo significativo”.
O programa Auxílio Brasil depende da aprovação da PEC dos Precatórios no Congresso Nacional. Porém, o governo já trabalha com a possibilidade de isso não aconteça e, ao invés de instituir a nova política, decretaria novo estado de calamidade e prorrogaria por mais um ano o Auxílio Emergencial no valor de R$ 220.
Como se vê, a única certeza nesse momento é o fim do Bolsa Família e o risco de milhares de famílias ficarem desassistidas e retornada à miséria extrema.
Sem Bolsa Família, Brasil pode ter miséria inédita
Com as incertezas que rondam o programa Auxílio Brasil e o futuro do auxílio emergencial, a economista Tereza Campello, uma das criadoras e gestoras do Bolsa Família atenta para o fato de que o Brasil pode viver um momento inédito em termos de miséria de pessoas desassistidas.
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“O poder de compra do Bolsa Família hoje seria de R$ 300, só que naquela ocasião a gente tinha 4% de desemprego. Então hoje você tem mais de 20% de desemprego, se somar o desemprego aberto e o oculto, e eles dizem que vão aumentar e vão fazer um programa muito melhor, não vão conseguir nem chegar no valor do Bolsa Família de 2014”, analisa Campello.
Em seguida, a economista explica que o país pode viver uma situação de miséria inédita em sua história. “É uma situação dramática. Se eles não fizerem nada, a situação de caos e de desproteção será um padrão jamais visto na história do Brasil recente, do pós-Segunda Guerra. Nós desconhecemos uma situação parecida.”