
O Talibã proibiu o uso de moedas estrangeiras no Afeganistão. Em comunicado divulgado na terça-feira (2), o grupo fundamentalista que retomou o poder em agosto alega que a “situação econômica e os interesses nacionais do país” exigem que a população use a moeda afegã em todos os seus negócios. Após duas décadas de ocupação dos Estados Unidos, o dólar americano se tornou amplamente utilizado no comércio local.
“O Emirado Islâmico instrui todos os cidadãos, lojistas, comerciantes, empresários e o público em geral a conduzir todas as transações no Afeganistão evitando estritamente o uso de moeda estrangeira. Qualquer pessoa que violar esta ordem enfrentará uma ação legal”, disse o porta-voz Zabihullah Mujahid.
Segundo as agências da ONU, cerca de 22,8 milhões de afegãos — mais da metade da população do país — sofrerão de insegurança alimentar aguda neste inverno (no Hemisfério Norte), colocando a nação, já instável, à beira de uma das piores crises humanitárias do mundo.
Um em cada dois afegãos enfrenta uma fase três de “crise” ou uma fase quatro de “escassez emergencial de alimentos”. A fase quatro está a um passo da fome. As autoridades enfatizaram que o país, que já luta para sair de uma guerra civil de 20 anos, enfrenta seu pior inverno em uma década.
Economia afegã pode encolher 30% este ano sob regime Talibã
A economia do Afeganistão pode encolher 30% neste ano, já que o governo do Talibã se encontra isolado da comunidade global, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 19 de outubro, um choque que “ameaça empurrar milhões para a pobreza”.
“Com a ajuda não humanitária interrompida e os ativos estrangeiros em grande parte congelados, a economia afegã, que é dependente de ajuda, enfrenta graves crises fiscais e de balanço de pagamentos”, disse o relatório.
A incerteza paira sobre a economia agora controlada pelo Talibã, que voltou ao poder em setembro após uma retirada caótica das forças de combate dos Estados Unidos.
“O Afeganistão estava recebendo US$ 7 bilhões a US$ 8 bilhões por ano em ajuda antes da chegada do Talibã”, disse Torek Farhadi, ex-conselheiro do FMI e membro do governo do ex-presidente afegão Hamid Karzai.
“Isso era apoio ao orçamento mais apoio militar, que estava escorrendo pelo sistema econômico. Agora foi totalmente cortado. É como se alguém perdesse uma renda sem seguro para substituí-la. O país perdeu todas as suas receitas de ajuda externa.”
O FMI também estimou que, embora a região tenha assegurado 576 milhões de doses de vacinas, o Afeganistão está com um déficit de 7 milhões.
As preocupações com a segurança desencadeadas por fluxos de refugiados também podem ter implicações para economias maiores, como Paquistão, Irã e Turquia, e podem pesar no sentimento de risco e nas perspectivas de crescimento, alertou o FMI em suas últimas perspectivas para o Oriente Médio e Ásia Central.
Se um adicional de 1 milhão de deslocados afegãos reassentassem em outros países, o custo de hospedar refugiados chegaria a US$ 500 milhões por ano no Paquistão – ou 0,2% do produto interno bruto – e US$ 300 milhões para o Irã, ou 0,03% do PIB. O custo para o Tajiquistão chegaria a US$ 100 milhões, ou 1,3% do PIB.
“Esta catástrofe humanitária irá corroer os ganhos de desenvolvimento humano feitos no Afeganistão nas últimas duas décadas”, disse Uzair Younus, analista de política visitante do Instituto da Paz dos Estados Unidos, uma instituição apartidária em Washington.
Younus, que monitora a economia do Paquistão e estuda seus vínculos formais e informais com o vizinho menor, destacou as recentes mudanças no regime cambial do Paquistão desencadeadas pela crise do Afeganistão.
“Uma crise econômica no Afeganistão também aumentará ainda mais a demanda por dólares americanos no Paquistão, onde o banco central ordenou recentemente que os viajantes ao Afeganistão carreguem apenas US$ 1 mil, em oposição ao limite anterior de US$ 10 mil”, disse Younus.
O analista citou relatórios locais nos mercados de câmbio do Paquistão, indicando que a demanda por dólares cresceu após a conquista de Cabul pelo Talibã.
Com informações do jornal O Globo e Valor Econômico