
Por Lucas Vasques
O presidente Jair Bolsonaro (PL) se supera a cada dia em suas declarações ofensivas ao povo brasileiro. Ele voltou a minimizar o número de mortes de crianças por covid-19 no país. Um dia depois de participar do enterro da própria mãe, Olinda Bolsonaro, em Registro, no interior de São Paulo, o presidente classificou o número de mortes infantis como “insignificante”.
“Eu desconheço criança baixar no hospital. Algumas morreram? Sim, morreram. Lamento, profundamente, tá. Mas é um número insignificante e tem que se levar em conta se ela tinha outras comorbidades também”, afirmou Bolsonaro.
O que para Bolsonaro é “insignificante”, na verdade, é uma tragédia para inúmeras famílias brasileiras.
De acordo com o Instituto Butantan, a covid-19 matou, por enquanto, 1.449 crianças, com idades entre zero e 11 anos no país. A doença também deixou milhares de crianças com sequelas.
Além de minimizar a dor das famílias, Bolsonaro voltou a criticar a vacinação infantil e destacar o que chama de “efeitos adversos”.
“A vacina para crianças não é obrigatória. E tem que ser falado o quê por ocasião da vacinação? Quem for aplicar a vacina? Olha, tá aqui teu filho, de cinco anos de idade. Ele pode ter palpitação, dores no peito e falta de ar. Vai ser dito para ele, como está no despacho do Lewandowski”, insistiu o presidente negacionista.
Bolsonaro atrapalha vacinação infantil
O governo negacionismo de Jair Bolsonaro tem feito o que pode para atrapalhar a vacinação contra a covid-19, especialmente, das crianças. São mentiras propagadas e falhas injustificáveis na logística de distribuição dos imunizantes pelo Ministério da Saúde, que tem sua vasta experiência reconhecida no mundo todo, que têm marcado a falta de proteção das crianças contra a doença.
Após afirmar à Folha que existem 4 mil mortes relacionadas à vacina contra a covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou atrás.
Afirmou que são casos em investigação em um universo de 325,71 milhões de vacinas aplicadas. Boletim epidemiológico da pasta publicado em novembro de 2021, indicava 11 mortes relacionadas às reações das vacinas.
A população, contudo, tem dado mostras de confiar na ciência e reconhecer a importância da imunização. Pesquisa DataFolha divulgada esta semana mostra que 79% dos brasileiros apoiam a vacinação infantil e 81% são a favor do passaporte da vacina.
Caos logístico
Em outra frente, o Ministério da Saúde quis mudar o padrão no processo de entrega das vacinas aos estados. Mais que isso, indicou que a pasta deixaria doses pediátricas na metade do caminho, segundo a Folha. O que gerou confusão.
Em nota, a pasta admitiu à Folha que, na confusão, superintendências do ministério foram mobilizadas para o transporte e isso “acarretou um desencontro”.
A escolha da empresa para fazer o transporte das vacinas, a IBL, também evidencia a postura antivacina do governo.
Contratou sem licitação uma empresa sem experiência no Sistema Único de Saúde (SUS) e que só transportou vacinas em um serviço prestado para uma empresa particular.
São dois contratos, que totalizam R$ 62,2 milhões, para armazenar e distribuir a vacina da Pfizer destinada à imunização de crianças e adolescentes.
O resultado foi atraso em entregas e condições inadequadas de armazenamento e transporte de doses.
Os contratos para as vacinas envolvem 16,6 milhões de frascos, que devem ser armazenados e transportados numa temperatura entre -90ºC e -60ºC. Mas há relatos de doses entregues em caixas de papelão com gelo.
Já os estados teriam sido informados pelo ministério que as secretarias de Saúde deveriam prosseguir com a logística das vacinas até as redes frias. Informação confirmada por gestores ao jornal.
O que difere da prática padrão da pasta em que a empresa responsável tem a atribuição de concluir o deslocamento das doses dos aeroportos aos centros de armazenamento nas capitais, até pela necessidade de tratamento especial dos imunizantes.
Ministério tenta culpar estados
O ministério negou a mudança e tentou culpar os estados.
Disse que secretarias estaduais de Saúde se mobilizaram para fazer o transporte das doses dos aeroportos aos depósitos.
Diante do aviso repassado por representante do ministério, logo no começo da distribuição das doses, autoridades locais de saúde, no entanto, fizeram contato imediato com a nova empresa contratada, a IBL (Intermodal Brasil Logística).
O temor dessas autoridades era que as vacinas pudessem se perder em razão da interrupção da cadeia de transporte.
O apelo surtiu efeito em pelo menos dois casos e os imunizantes foram transportados até as redes de frios de centrais de armazenamento.
“As vacinas chegam em Viracopos [aeroporto em Campinas] e são encaminhadas até o centro de distribuição em Guarulhos [aeroporto em São Paulo]. Lá são armazenadas e inicia-se o processo de preparação da carga para que a IBL envie às secretarias, até cada secretaria de Saúde”, afirmou a IBL, em nota.
A empresa que até o momento entrega as demais vacinas contra a covid-19, a VTCLog, é obrigada a entregar as os imunizantes nos locais indicados pelas secretarias de Saúde de cada estado.