
A carreata em apoio ao presidente de Jair Bolsonaro, realizada no último domingo (17) em Brasília teve como principal organizador um sindicato de caminhoneiros. A entidade enviou 35 caminhões de Anápolis, em Goiás, para a manifestação, alguns deles registrados em nome da Transportes Gabardo, empresa com sede no Rio Grande do Sul. A Polícia Civil não informa quantas pessoas participaram da manifestação, visivelmente esvaziada.
O empresário Sérgio Mário Gabardo, dono da transportadora que leva o seu sobrenome, afirmou ao Estadão que a iniciativa da carreata partiu do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Veículos de Goiás (Sintrave-GO) e que os caminhões pertencem aos próprios motoristas.
“Eu não posso impedir. Não mando no presidente do sindicato”, afirmou Gabardo. Ao menos dois dos veículos que estiveram no ato de domingo, porém, estão em nome da sua empresa, de acordo com informações do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) do Rio Grande do Sul.
Gabardo nega ser “bolsonarista”, mas disse apoiar o discurso do presidente pelo fim de medidas de isolamento social durante a pandemia de coronavírus para evitar o impacto na economia. Ele admite ter sido consultado sobre a participação dos motoristas no ato de domingo e que sua única recomendação foi de não prejudicarem a imagem da empresa, sob pena de terem contratos cancelados.
“Pediram para mim e eu dei o ‘ok’, desde que fosse manifestação ordeira. Concordo que precisamos trabalhar. Precisamos nos preocupar com a doença, é importante se cuidar, mas acho que precisamos trabalhar. Eu e os carreteiros temos muitas prestações para pagar”, afirmou o empresário.
Figurinha repetida
Os caminhões carregavam a marca da transportadora nas portas. Cada um deles foi ornamentado com faixas padronizadas, com dizeres como “parabéns pelo novo ministro da Justiça”, “nossa bandeira jamais será vermelha” e “só queremos viajar e trabalhar”.
Sob o governo Bolsonaro, a empresa já prestou serviços ao Exército, em 2019, em pelo menos duas ocasiões, em contratos que somam R$ 40 mil. Foram transportes de encomendas para a 3º Divisão do Exército, no Rio Grande do Sul, pagos pelo Ministério da Defesa.
Outra empresa em que Gabardo é sócio, a RG Log Logística, também fez negócios com o governo que somam R$ 3,7 milhões, mas referente a contratos assinados em gestões passadas. Os ministros Augusto Heleno (GSI), Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Relações Institucionais), todos generais, participaram do ato ao lado do presidente.
Na campanha eleitoral de 2018, Gabardo doou R$ 25 mil para a campanha do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). Aliado de Bolsonaro, Terra é contrário ao isolamento social e um dos principais defensores de medidas que contrariam o que é consenso no meio científico como estratégia de combate à propagação do novo coronavírus.
Com informações do Estadão.
1 comentário