
Foto: Roberto Viana
O diretor do site Socialismo Criativo, Domingos Leonelli, ministrou a palestra ‘Turismo e Economia Criativa – uma soma estratégica’ durante o II Encontro Internacional de Jornalistas de Turismo, realizado em Salvador (BA) na quinta-feira (22/8). Durante o evento, organizado pela Abrajet e voltado para profissionais de comunicação de todo o País, ele defendeu a Economia Criativa como estratégia de desenvolvimento. Ele destacou que esse segmento articula alguns dos elementos mais dinâmicos da economia, ao mesmo tempo em que configura um conjunto de atividades econômicas que partem do talento criativo da cultura e da inovação e uma alternativa para a redução da desigualdade e geração de emprego, renda e oportunidades.
A Economia Criativa, explica Leonelli, envolve software, pesquisa e desenvolvimento, design, artes plásticas e cênicas, artesanato, música, filme e vídeo, tv e rádio, mercado editorial, biotecnologia, arquitetura e engenharia, moda, expressões culturais, publicidade, computação e telecom. Além de turismo, entretenimento e gastronomia, segmentos que atualizaram a lista de atividades criativas em alguns países e no Brasil, a exemplo do Plano Economia Criativa de São Paulo, elaborado pelo Instituto Pensar e Fundação Vanzolini.
Leonelli comentou que não é toda gastronomia que pode ser considerada Economia Criativa. Na experiência com a prefeitura de São Paulo, a Abrasel/SP inclui apenas 10% de bares e restaurantes com características criativas. Seja por um chef inovador, caracterização temática e cultural do estabelecimento. Já no caso do turismo, por sua importância econômica, pelos empregos que gera e pelo que induz de desenvolvimento, merece atenção especial para justificar sua classificação como atividade da Economia Criativa.
Ele destacou que os setores economicamente mais dinâmicos desse segmento são softwares (pesquisa e aplicativos), design (produtos, processos e serviços), tecnologias de informação e comunicação, e cultura (audiovisual e games). Já os mais socialmente inclusivos são moda, artesanato, entretenimento, gastronomia e turismo. Ele destacou que a tecnologia promove uma grande sinergia entre os setores mais dinâmicos e os mais inclusivos da Economia Criativa. Por exemplo: viagens programadas pela internet, modelagem online para vestuário, transformação de filmes em games e vendas programadas de tickets para espetáculos e atividades culturais.
Ex-secretário do Turismo da Bahia e ex-deputado federal em três mandatos, o publicitário Domingos Leonelli preside o Instituto Pensar e é integrante de Executiva Nacional do PSB, e citou que, no Brasil, o mercado de viagens é responsável por mais de 8,1% do PIB nacional, equivalente a US$ 152,5 bilhões (mais de R$ 614 bi), e gera emprego para 6,9 milhões de trabalhadores. No mundo, o impacto do turismo gerou uma participação de US$ 8,8 trilhões ao PIB mundial (10,4%), com um crescimento de 3,9%, superior à expansão da economia global (3,2%).
“Por que esses setores, turismo e economia criativa, que não estão juntos, fazem parte de um mesmo contexto econômico e cultural? A característica mais importante da Economia Criativa é a centralidade do intangível como fator gerador da produção. Poucas atividades econômicas constituem-se de algo mais cultural e criativo do que uma viagem.”
Domingos Leonelli
Ele falou que uma viagem é um centro gerador de atividade turística que proporciona novos conhecimentos, novas vivências, novos descobrimentos, novas sensações de prazer e de crescimento cultural e que a diversidade cultural é um dos maiores ativos do turismo. Exemplificou que mesmo o chamado turismo de massas contribui para fortalecer e ampliar os museus, as casas de espetáculos, o patrimônio natural, o artesanato, as novas experiências culturais, a música, a gastronomia a dança e o teatro, além de fortalecer a identidade cultural dos países e das regiões. “O que seria do tango, do flamenco e do próprio samba sem o turismo?”, questionou.
Leonelli afirmou que, em geral, cidades criativas têm no turismo umas das suas principais atividades econômicas. A elaboração de um roteiro, a criação de um filme para um destino turístico, a formatação de um destino turístico, os sites de viagem, a criação de marcas que sintetizam e traduzem a força cultural, a beleza e o encantamento de um local são atos criativos que resultam em produção de riqueza cultural, econômica e social. Prevalece, portanto, uma dimensão simbólica.
O diretor do Socialismo Criativo deu como exemplo de dimensão simbólica do turismo o projeto Experimente Brasília. O laboratório de turismo criativo abre caminhos para desbravar a Capital Federal de um jeito genuíno, peculiar e lúdico, pelas mãos dos próprios moradores, de uma cidade que não possui centro, nem comercial nem histórico. Possui apenas um centro monumental que pode ser visitado em apenas uma tarde. A iniciativa brasiliense promove um jeito diferente de enxergar a cidade com sugestões de programas inusitados. Na Rota do Modernismo, o turista ou morador percorre criações de Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Athos Bulcão e Burle Marx e descobre segredos modernistas. Na Caça Vinil, experimenta lojas, sebos e acervo de colecionadores com um DJ da cidade apaixonado por bolachões. O Brasília Cool apresenta espaços criativos da moda, da arte e do design com passeios a lojas, brechós, cafés e galerias que agitam a cena cultural da cidade. Assim, o turismo contribui para reinventar a cidade
e definir a própria identidade.
Leonelli falou também sobre as dimensões políticas e econômicas do turismo e da economia criativa. Citou que a simples soma dos PIBs do Turismo (8,1%) e das Indústrias Criativas (2,61%) representam, juntos, 10,71% do PIB Nacional em 2018. Juntando mais 1,28%* do PIB relativo à pesquisa e desenvolvimento, teríamos um PIB total da Economia Criativa de quase 12%. No entanto, disse, essas atividades de cultura, turismo e pesquisa e desenvolvimento não correspondem nem a 1,5% do orçamento da União.
A demonstração dessa soma talvez possa contribuir para que os gestores de governos municipais, estaduais e federal possam abrir os olhos para a importância da Economia Criativa como vetor estratégico para o desenvolvimento. Visto que a Economia Criativa, ou Economia do Conhecimento, em última instância, é também a economia da cultura, do turismo e da ciência e tecnologia.
Domingos Leonelli
Ele apresentou números do Mapeamento da Indústria Criativa 2019 / FIRJAN, que mostra que o mercado de trabalho criativo brasileiro reúne 245 mil estabelecimentos e 837,2 mil profissionais. O cenário recessivo dos últimos anos gerou uma leve retração da participação do PIB Criativo no PIB Brasileiro, que saiu de 2,64% para 2,61%, representando a soma de R$ 171,5 bilhões.
Integrante da Executiva Nacional do PSB, o palestrante comentou que, no Brasil, só um partido político, o PSB, adotou a Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento. A proposta é que a Economia Criativa seja eixo de um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico, que assegure ao Brasil uma inserção soberana na economia globalizada na Era do Conhecimento e proporcione as mudanças necessárias para que possamos passar de mercado-consumidor-passivo para mercado-produtor-ativo.
Leonelli encerrou falando sobre os problemas políticos e culturais comuns ao turismo e à economia criativa, como a força da tradição, em que o pensamento majoritário restringe o conceito de desenvolvimento à indústria, setores que se excluem da atividade criativa, como, por exemplo, o aeroviário, e a ausência de representatividade política.

Foto: Roberto Viana
Sobre a necessidade da intervenção do Estado para o incentivo de startups e empresas voltadas para softwares e games, ele citou que a Apple, gigante do mundo de computadores e celulares, não fora apenas uma empresa surgida na garagem de Steve Jobs. “Os Estados Unidos perceberam a importância estratégica de se investir neste negócio criativo”, afirmou.
Leonelli citou exemplos como a Austrália e Grã Bretanha, países que apostaram na economia criativa e hoje colhem os frutos. “O Tony Blair – ex-primeiro ministro inglês – certa vez disse que o rock de Queen, The Rolling Stones e The Beatles rendia mais riquezas que as indústrias e ele estava certo”, disse. Para o ex-secretário do Turismo da Bahia, falta compreensão dos governantes sobre o quanto são importantes o Turismo e a Economia Criativa e deu exemplos.
Confira o vídeo do PSB Bahia:
Palestra Turismo e Economia Criativa com Domingos Leonelli
Publicado por PSB-Bahia em Quinta-feira, 22 de agosto de 2019
Com informações da Assessoria da deputada federal Lídice da Mata