
O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, voltou a usar as redes sociais para levantar suspeitas sobre a teoria de conspiração do “Great Reset” (grande recomeço ou zeragem), que trata da origem da Covid-19. A mensagem foi publicada na última sexta-feira (4) no Twitter, após Araújo participar de uma conferência da Organização das Nações Unidas (ONU).
“A pandemia não pode ser pretexto para controle social totalitário violando inclusive os princípios das Nações Unidas. As liberdades fundamentais não podem ser vítima da Covid. Liberdade não é ideologia. Nada de Great Reset”, escreveu na rede social Twitter, acrescentando o link para um vídeo da “minha fala em sessão ONU sem Covid”.
As Nações Unidas promoveram uma conferência extraordinária das Nações Unidas sobre a pandemia do vírus Sars-Cov-2 na última quinta-feira (3). O encontro, que se estendeu até a sexta e contou com a participação de mais de 90 chefes de Estados, pretendia alcançar um compromisso global face à pandemia. Após Jair Bolsonaro (sem partido) ignorar o convite, Brasil foi representado pelo chanceler Ernesto Araújo e, por isso, foi colocado no final da fila dos discursos.
Mito do “grande recomeço”
Popular em plataformas de extrema direita, a “grande zeragem” é uma teoria da conspiração segundo a qual a pandemia da Covid-19 teria se originado num projeto secreto de elites corruptas, com o fim de impor seu controle econômico e social às massas.
Em maio, a teoria tomou impulso após o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, anunciar a intenção de reunir líderes mundiais, num encontro denominado “Great Reset“, para discutir as mudanças climáticas e a reconstrução sustentável de economias prejudicadas pela pandemia. Isso deu margem a rumores sobre elites que manipulariam a economia e a sociedade mundiais.
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Apesar de não citar diretamente o termo em seu discurso na ONU, o chanceler do Brasil falou de “uma armadilha” para suprimir liberdades durante a atual pandemia. Há mais de 66 milhões de casos confirmados da Covid-19 em todo o mundo, resultando em 1,5 milhão de óbitos, segundo dados mais recentes da Universidade Johns Hopkins.
“Aqueles que não gostam da liberdade sempre tentam se beneficiar dos momentos de crise para pregar o cerceamento da liberdade. Não caiamos nessa armadilha. O controle social totalitário não é o remédio para nenhuma crise. Não façamos da democracia e da liberdade mais uma vítima da covid-19”, afirmou na ONU, sem especificar a quem se referia, o diplomata, indicado por Bolsonaro e também admirador de Donald Trump.
Conspiração à moda brasileira
“A Covid-19 não pode servir como pretexto para avançar agendas que extrapolam a estrutura constitucional das Nações Unidas”, insistiu Ernesto Araújo, comentando a situação da pandemia no Brasil. Com mais de 6,5 milhões de casos e quase 176 mil vítimas, o país apresenta a segunda maior mortalidade da Covid-19, depois dos Estados Unidos.
Entre os que advogam o “Great Reset” conta o QAnon, um movimento surgido nos Estados Unidos em 2017, combinando várias teorias da conspiração, que já ganhou uma versão brasileira e tem se espalhado rapidamente entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
O movimento nasceu em fóruns na internet da extrema direita americana, onde um anônimo (QAnon) passou a alegar que possuía informações secretas de agências de segurança sobre um grupo liderado por uma elite corrupta de pedófilos satanistas, os quais sequestrariam e sacrificariam crianças.
No Brasil, o QAnon adaptou-se à narrativa conspiratória local. Alegando defender valores cristãos e conservadores, seus disseminadores usam as redes sociais para espalhar falsidades contra críticos ao governo bolsonarista.
Com informações da Deutsche Welle Brasil