
Uma mulher está com hepatite medicamentosa e corre o risco de necessitar de um transplante de fígado. A causa pode ter sido por ela ter tomado 18 mg por dia de ivermectina ao longo de uma semana para combater um quadro leve de Covid-19. Após o episódio ser divulgado pela imprensa, médicos fizeram outro alerta sobre medicamentos sem comprovação.
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O caso foi alertado em um tuíte do pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT). Após a postagem, o médico fechou suas redes sociais em razão de ataques virtuais sofridos, principalmente por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Ivermectina e o Kit Covid
O medicamento faz parte do chamado “Kit Covid”, voltado ao suposto “tratamento precoce” da doença. Bolsonaro costuma defender o uso desses remédios, mesmo sem comprovação de eficácia por estudos científicos. Em publicação no Twitter em janeiro, o chefe do Executivo atribuiu a baixa taxa de óbitos por coronavírus em países africanos à distribuição em massa da ivermectina.
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Pelas redes sociais, o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) reforçou a importância de seguir as prescrições de acordo com pesquisas científicas e classificou a atitude de Bolsonaro como “irresponsável”.
Ao jornal O Globo, o médico hepatologista Paulo Bittencourt, presidente do Instituto Brasileiro do Fígado da Sociedade Brasileira de Hepatologia, explica que 27% das hepatites agudas graves ou fulminantes são de origem medicamentosa. É a principal causa de um problema que, muitas vezes, acaba exigindo um transplante de fígado.
“Do coquetel que está sendo usado sem evidências de eficácia para Covid-19, as três medicações (ivermectina, cloroquina e azitromicina), apesar de seguras, têm potencial de evolução para hepatite aguda. É uma ocorrência rara, mas o que nos preocupa é que estão sendo usadas em larga escala, sem prescrições, para uma doença que acomete milhões de pessoas. A complicação pode ter uma frequência maior com o uso exacerbado.”
Paulo Bittencourt, presidente do Instituto Brasileiro do Fígado da Sociedade Brasileira de Hepatologia
Com informações do jornal O Globo