Tradição é uma palavra muito forte no mundo dos negócios. Nos grandes centros, mesmo que com um atraso de 2 anos, o mercado e a indústria discutem a onda 4.0.
Na ordem do dia, tudo gira em torno desses dois números que estão quase obsoletos no movimento do mundo. A indústria do Brasil reconheceu a urgência do assunto no final do ano passado, e o tema virou a ordem do dia. Inovar significa sobreviver.
Inovação e 4.0 na ordem do dia
Negócios de todos os segmentos e tamanhos precisam abrir espaço para esse assunto. Ecossistemas sociais precisam conectar-se ao debate e planejar ações casadas. E todos nós, profissionais do mercado, precisamos aprofundar a discussão, para que nos tornemos capazes de aprender e nos transformar ao mesmo tempo.
Teremos que ser híbridos, desapegados, hábeis, capazes de andar em curvas desconhecidas e corajosos para que possamos nos reinventar junto com o mercado nos próximos anos.

Cada vez mais empresas trabalham para construir caminhos de inovação (Crédito: Shutterstock)
Novos dilemas sociais vêm aparecendo. Cada vez há mais executivos entrando em ano sabático para entender as mudanças do mundo. Cada vez mais profissionais vêm buscando trilhas de reciclagem. Cada vez mais empresas trabalham para construir caminhos de inovação. Todos os dias temos empresas surgindo.
A mais profunda mudança da raça humana já está em andamento
A Quarta Revolução Industrial exige atenção, decisão e prontidão. Não é preciso pressa, mas a distração pode custar caro. Para o futuro imediato, teremos algumas tecnologias em destaque, mas elas não deveriam virar o novo tecnicismo do mercado.
O futuro emergente exige soft skills, não conhecimento apenas ou novas tribos técnicas ou tecnológicas. Um novo organismo humano está nascendo: consciente de si mesmo, bem construído em termos éticos, ambicioso por causas de impacto social e corajoso para romper com as barreiras do status quo. Este novo cidadão escolhe a vida que quer viver e cria o futuro que deseja.
Há um novo questionamento no ar: já temos uma ideia do que vem pela frente, agora queremos saber como nos adaptar. Alguns assuntos de 2017 já estão com prazo vencido. Precisamos ampliar a discussão e tirar o foco excessivo em torno da tecnologia.

As máquinas não ameaçam seu trabalho atual, seu modelo mental sim (Crédito: Shutterstock)
Transformação Digital não é apenas sobre inserir a tecnologia no negócio atual! Ela começa pelo debate em torno da remodelagem do negócio, da mudança da cultura e do mindset dos líderes. Estudos pelo mundo mostram que a digitalização será apenas a primeira etapa da revolução em curso.
Se você é executivo, não perca mais nenhum minuto resistindo e imaginando que vai demorar ou que seu segmento está protegido pela história que criou até agora. Se você é gestor ou head de área, busque cursos tecnológicos, mas dê a mesma atenção ao desenvolvimento de habilidades de comportamento. Elas são as grandes estrelas da próxima década.
As máquinas não ameaçam seu trabalho atual, seu modelo mental sim, e sua capacidade de desaprender e reaprender em curto prazo serão definitivas. As escolhas deste ano flutuam entre: influenciar a mudança, ser influenciado por ela ou acordar um dia e perceber que o mundo que você conheceu não existe mais.

Os sistemas ciberfísicos capazes de se comunicar entre si e com os humanos estão no centro da revolução em ascensão.
“No final do século 17 foi a máquina a vapor. Desta vez, serão os robôs integrados em sistemas ciberfísicos os responsáveis por uma transformação radical. E os economistas têm um nome para isso: a quarta revolução industrial, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.”
Eles antecipam que a revolução mudará o mundo como o conhecemos. Soa muito radical? É que, se cumpridas as previsões, assim será. E já está acontecendo, dizem, em larga escala e a toda velocidade.
“Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”.
Diz Klaus Schwab, autor do livro A Quarta Revolução Industrial, publicado em 2016.

A industrialização mudará de uma maneira radical e, com ela, o universo do emprego
Os “novos poderes” da transformação virão da engenharia genética e das neuro tecnologias, duas áreas que parecem misteriosas e distantes para o cidadão comum.
No entanto, as repercussões impactarão em como somos e como nos relacionamos até nos lugares mais distantes do planeta: a revolução afetará o mercado de trabalho, o futuro do trabalho e a desigualdade de renda. Suas consequências impactarão a segurança geopolítica e o que é considerado ético.
Então de que se trata essa mudança e por que há quem acredite que se trata de uma revolução?
O importante, destacam os teóricos da ideia, é que não se trata de um desdobramento, mas do encontro desses desdobramentos. Nesse sentido, representa uma mudança de paradigma e não mais uma etapa do desenvolvimento tecnológico.
“A quarta revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital (anterior)”, diz Schwab, diretor executivo do Fórum Econômico Mundial e um dos principais entusiastas da “revolução”.
“Há três razões pelas quais as transformações atuais não representam uma extensão da terceira revolução industrial, mas a chegada de uma diferente: a velocidade, o alcance e o impacto nos sistemas. A velocidade dos avanços atuais não tem precedentes na história e está interferindo quase todas as indústrias de todos os países”, diz o Fórum.
Também chamada de 4.0, a revolução acontece após três processos históricos transformadores. A primeira marcou o ritmo da produção manual à mecanizada, entre 1760 e 1830. A segunda, por volta de 1850, trouxe a eletricidade e permitiu a manufatura em massa. E a terceira aconteceu em meados do século 20, com a chegada da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações.

A primeira revolução industrial deu origem à produção mecanizada graças a novidades como o motor a vapor
Agora, a quarta mudança traz consigo uma tendência à automatização total das fábricas – seu nome vem, na verdade, de um projeto de estratégia de alta tecnologia do governo da Alemanha, trabalhado desde 2013 para levar sua produção a uma total independência da obra humana.
A automatização acontece através de sistemas ciberfísicos, que foram possíveis graças à internet das coisas e à computação na nuvem.
Os sistemas ciberfísicos, que combinam máquinas com processos digitais, são capazes de tomar decisões descentralizadas e de cooperar – entre eles e com humanos – mediante a internet das coisas.

O que acontecerá com o emprego?
O que vem por aí, dizem os teóricos, é uma “fábrica inteligente”. Verdadeiramente inteligente. O princípio básico é que as empresas poderão criar redes inteligentes que poderão controlar a si mesmas.
Os números econômicos são impactantes: segundo calculou a consultora Accenture em 2015, uma versão em escala industrial dessa revolução poderia agregar 14,2 bilhões de dólares à economia mundial nos próximos 15 anos.
No Fórum Mundial de Davos, em janeiro deste ano, houve uma antecipação do que os acadêmicos mais entusiastas têm na cabeça quando falam de Revolução 4.0: nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial, biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D.
Mas esses também serão os causadores da parte mais controversa da quarta revolução: ela pode acabar com cinco milhões de vagas de trabalho nos 15 países mais industrializados do mundo.

No Fórum Mundial de Davos, em janeiro passado, a quarta revolução industrial foi a estrela do debate
Revolução para quem?
Os países mais desenvolvidos adotarão as mudanças com mais rapidez, mas os especialistas destacam que as economias emergentes são as que mais podem se beneficiar.
“A quarta revolução tem o potencial de elevar os níveis globais de rendimento e melhorar a qualidade de vida de populações inteiras”, diz Schwab. São as mesmas populações que se beneficiaram com a chegada do mundo digital – e a possibilidade de fazer pagamentos, escutar e pedir um táxi a partir de um celular antigo e barato.
Obviamente, o processo de transformação só beneficiará quem for capaz de inovar e se adaptar.

Um esquema da internet das coisas (IoT, em inglês) sobre a qual essa transformação se apoia
“O futuro do emprego será feito por vagas que não existem, em indústrias que usam tecnologias novas, em condições planetárias que nenhum ser humano já experimentou”, diz David Ritter, CEO do Greenpeace Austrália/Pacífico em uma coluna sobre a quarta revolução industrial para o jornal britânico The Guardian.
E os empresários parecem entusiasmados – mais que intimidados – pela magnitude do desafio, uma pesquisa aponta que 70% têm expectativas positivas sobre a quarta revolução industrial.
Ao menos esse é o resultado do último Barômetro Global de Inovação, uma pesquisa que compila opiniões de mais de 4.000 líderes e pessoas interessadas nas transformações em 23 países.
Ainda assim, a distribuição regional é desigual e os mercados emergentes da Ásia são os que estão adotando as transformações de uma forma mais intensa que os de economias mais desenvolvidas.
“Ser disruptivo é o padrão modelo para executivos e cidadãos, mas continua sendo um objetivo complicado de se colocar em prática”, reconhece o estudo.
Os perigos do cibermodelo
Nem todos veem o futuro com otimismo: as pesquisas refletem as preocupações de empresários com o “darwinismo tecnológico”, onde aqueles que não se adaptam não conseguirão sobreviver.
E se isso acontece a toda velocidade, como dizem os entusiastas da quarta revolução, o efeito pode ser mais devastador que aquele gerado pela terceira revolução.

A revolução terá que criar uma nova relação entre pessoas e robôs. No entanto, por trás disso há dilemas éticos e sociais a resolver, dizem os críticos.
“No jogo do desenvolvimento tecnológico, sempre há perdedores. E uma das formas de desigualdade que mais me preocupa é a dos valores. Há um risco real de que a elite tecnocrática veja todos as mudanças que vêm como uma justificativa de seus valores”, disse à BBC Elizabeth Garbee, pesquisadora da Escola para o Futuro da
Inovação na Sociedade da Universidade Estatal do Arizona (ASU).
“Esse tipo de ideologia limita muito as perspectivas que são trazidas à mesa na hora de tomar decisões (políticas), o que por sua vez aumenta a desigualdade que vemos no mundo hoje”, diz.
“Considerando que manter o status quo não é uma opção, precisamos de um debate fundamental sobre a forma e os objetivos desta nova economia”, diz Ritter, que considera que deve haver um “debate democrático” em relação às mudanças tecnológicas.
Por um lado, há quem desconfie de que se trata de uma quarta revolução: é certo que as mudanças são muitas e profundas, mas o conceito foi usado pela primeira vez em 1940 em um documento de uma revista de Harvard intitulado A Última
Oportunidade dos Estados Unidos, que trazia um futuro sombrio para avanço da tecnologia e seu uso representa uma “preguiça intelectual”, diz Garbee.
Outros, mais pragmáticos, alertam que a quarta revolução só aumentará a desigualdade na distribuição de renda e trará consigo todo tipo de dilemas de segurança geopolítica.
O mesmo Fórum Econômico Mundial reconhece que “os benefícios da abertura estão em risco” por causa de medidas protecionistas, especialmente barreiras não tarifárias do comércio mundial que foram exacerbadas desde a crise financeira de 2007: um desafio que a quarta revolução deverá enfrentar se quiser entregar o que promete.
“O entusiasmo não é infundado, essas tecnologias representam avanços assombrosos. Mas o entusiasmo não é desculpa para a ingenuidade e a história está infestada de exemplos de como a tecnologia passa por cima dos marcos sociais, éticos e políticos que precisamos para fazer bom uso dela”, diz Garbee.

Angela Merkel em uma fábrica de robôs: para a Alemanha, a revolução 4.0 é uma prioridade
Fontes: www.futuri9.com e www.bbc.com