
Por Domingos Leonelli
A imprensa divulgou hoje, como se fosse a coisa mais natural do mundo, a declaração do economista-chefe da XP, Caio Megale, afirmando que os principais feitos do governo Lula “foram as coisas que não aconteceram”. Ele exemplifica com a manutenção das reformas trabalhista e previdenciária, a privatização da Eletrobrás e a autonomia do Banco Central. Porém, ele omite a não tributação dos ganhos de capital e grandes fortunas.
Para o capital financeiro, a recuperação democrática no Brasil, a melhora da imagem do país no exterior, o fortalecimento do Bolsa Família e do programa Mais Médicos, o investimento em cultura, o fortalecimento do SUS, as tímidas tentativas de política industrial, os estímulos financeiros à agricultura e ao agronegócio, incluindo o maior Pronaf da história, não têm importância alguma. Para eles, questões políticas como trabalho, produção, saúde e bem-estar do povo são irrelevantes.
O que realmente importa é a manutenção de um “status quo” onde o trabalho, a produção e o bem-estar da população não atrapalhem os lucros do capital improdutivo. Nada de mexer na privatização da Eletrobrás, que tinha um valor de mercado de 400 bilhões de reais e foi vendida ao capital privado por cerca de 33,7 bilhões. Nada de mexer na autonomia do Banco Central, que garante aos banqueiros os juros mais altos do mundo. Nada de mexer na reforma trabalhista, mesmo em um país onde mais da metade da força de trabalho está na informalidade e o desemprego entre os jovens chega a dezoito por cento.
A questão da financeirização da economia é um problema global, mas em nenhum outro lugar do mundo (exceto na Estônia) os ganhos de capital ficam isentos de tributação. O Brasil é o paraíso do rentismo. E ao contrário do economista da XP, considero que a posição mais importante do governo Lula é a luta contra a maior taxa de juros do mundo.