
Dados do Anuário de Segurança Pública apontam que os registros de armas de fogo nas mãos de civis cresceram 474% durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e o número supera o arsenal em uso pelas forças de segurança em todo o país. Segundo o G1, das 1.490.323 armas de fogo com registro ativo em 2021, apenas 384.685 estavam ligadas a órgãos públicos, segundo o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal.
Até 2018, antes de Bolsonaro chegar ao poder, o número de pessoas registradas no grupo dos CACs, formado por caçadores, atiradores e colecionadores, chegava a 117,5 mil. Agora, segundo o anuário, são 673,8 mil registros. O número corresponde a 314 registros de armas de fogo para cada grupo de 100 mil habitantes.
O estado de São Paulo, o mais populoso do país, concentra 26% do total de registros CACs. Em seguida aparecem Paraná e Santa Catarina, com 16% do total. O Rio Grande do Sul representa 11% dos registros. “Ou seja, apesar de ter 14% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, a região Sul tem 25% dos registros CAC no Brasil”, ressalta a reportagem.
O anuário também aponta que o número de posses de arma ativos no Brasil cresceu 133,6% entre 2017 e 2021, passando de 638 mil para quase 1,5 milhão. O número de registros de porte de arma de fogo subiu 15,9% no período, passando de 48,6 mil para 56,3 mil. O número de registros de armas ativos na Polícia Federal aumentou 20,8% entre 2020 e 2021, passando de 1,2 milhão para 1,5 milhão, sendo parte de pistolas (454 mil) e espingardas (172 mil).
Ainda segundo o anuário, há mais armas de fogo nas mãos de civis do que em estoques institucionais de órgãos públicos, como das polícias civis, federal, rodoviária federal e guardas municipais. “Das 1.490.323 armas de fogo com registro ativo em 2021, apenas 384.685 estavam ligadas a órgãos públicos, segundo o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal”, ressalta a reportagem.
Registros de armas de caça triplicam no Brasil
Outra matéria, desta vez, do jornalista Carlos Madeiro, do Uol, afirma que o número de armas de caça registradas por ano no Brasil triplicou nos últimos três anos. Em dezembro de 2018, foram 7,6 mil armas do tipo registradas. Em dezembro de 2021, o número passou para 29,5 mil. O levantamento foi feito a partir dos Certificado de Registro de Arma de Fogo (CRAF), do Exército, expedidos a pedido de caçadores, atiradores e colecionadores, os CACs.
Foi esse tipo de arma teria sido usado para matar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, em Atalaia do Norte (AM), conforme as investigações da Polícia Federal (PF).
Armar a população é uma das principais bandeiras de morte de Bolsonaro, que sempre defendeu a liberação de armas em detrimento de políticas públicas de segurança integrada que realmente protejam a população.
Essa obsessão armamentista de Bolsonaro também é vista como uma estratégia para tensionar a população e ampliar o clima bélico em torno das eleições intensificado pelo atual ocupante do Planalto em diversas frentes.
Aumento exponencial
Ainda de acordo com o levantamento, entre 2019 e 2021 foram 51.117 armas de caça registradas. O número representa um aumento de 44,8% em relação aos últimos 16 anos no país, quando 35.308 armas do tipo foram registradas em todos os governos de Lula (PT), Dilma Roussef (PT) e Michel Temer (MDB).
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São cinco os principais tipos de armas de caça no país: espingardas, revólveres, fuzis, pistolas e carabinas. Elas correspondem a 95% do total desse tipo, de acordo com dados do Exército, de abril deste ano, levantados pela reportagem.
450 novas licenças por dia
Não são apenas os registros de armas de caça que têm saltado vertiginosamente: 450 pessoas por dia receberam a licença de CACs durante o governo Bolsonaro. Com isso, cada uma delas de comprar 60 armas, sendo 30 de uso restrito, e até 180 mil munições por ano.
De julho de 2019, momento em que a atual gestão já estava no poder havia sete meses, até março de 2022, foram concedidas 437.923 licenças do tipo no país.
Os atiradores têm a permissão para compra de 60 armas, sendo que 30 podem ser fuzis, além dos 180 mil cartuchos, enquanto que no caso dos caçadores, o número de armas autorizadas para compra é de 30, conjuntamente com 6 mil munições.
Acesso às armas fomenta violência letal
Estudiosos da segurança pública veem com preocupação o armamento da população. De acordo com eles, a literatura científica mostra que mais revólveres, pistolas e afins circulando na sociedade necessariamente pioram as estatísticas de violência letal.
Um infeliz e trágico exemplo disso foi o assassinato de uma advogada de 28 anos, na porta de casa, em Bagé (RS), após intervir na discussão entre um casal, na madrugada de domingo (26). Ana Laura Borralho de Borba saiu para rua no intuito de acabar com uma briga envolvendo um homem e uma mulher, mas após ser enfrentada pelo envolvido, entrou novamente na residência e saiu com um revólver calibre 38 para intimidá-lo. Ela foi desarmada e atingida no peito por um dos cinco disparos feitos pelo criminoso.
Segundo testemunhas, a discussão violenta entre o casal ocorreu tarde da noite e a advogada e outras três pessoas foram até a via pública para dar fim à briga. O homem que gritava não teria gostado da intervenção do grupo e então investiu contra eles, momento em que Ana Laura resolveu retornar ao imóvel e sair de arma em punho, para tentar dissuadi-lo.
De acordo com o delegado Cristiano Ritta, que registrou a ocorrência no Distrito Policial de Bagé, o revólver era legal e a família moradora da casa, incluindo Ana Laura, era de atiradores que participavam de clubes de tiros na região, salientando que a vítima sabia manusear bem a arma.
“Ele tinha antecedentes criminais. Foi preso uma noite, por tráfico de drogas, e posto em liberdade. A arma era da família. Eles eram atiradores, participavam de clube de tiro, tinham experiência. Não é que não sabia atirar, mas tomaram a arma dela”, disse o delegado à reportagem da RBS.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio Grande do Sul emitiu uma nota lamentando o assassinato e assinalou que Ana Laura perdeu a vida exercendo sua cidadania ao tentar impedir um caso de violência contra a mulher.
Com Henrique Rodrigues, da Revista Fórum, e informações do G1, Uol e Brasil 247