
A Procuradoria-Geral da República (PGR) mandou a Polícia Federal (PF) investigar brasileiros que cobraram que Augusto Aras mandasse investigar os escândalos de corrupção nas ruas de Paris, em abril, quando ele passeava de férias pela capital francesa.
O pedido foi feito pela vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo e, de acordo com a Folha, a PF interrogou os brasileiros assim que chegaram ao Brasil, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
A vice-procuradora cita na ação, de acordo com o jornal, dispositivo que afirma que é crime tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais.
Vídeo que circulou nas redes sociais registra o momento em que Augusto Aras é cobrado por brasileiros nas de Paris a apurar o escândalo dos dois pastores que negociavam verbas do Ministério da Educação (MEC) com municípios em troca de propina.
“E aí, procurador? Dar rolezinho em Paris é legal, e abrir processo, procurador? Vamos lá investigar, procurador, ou vai continuar engavetando? Vamos lá fazer o seu trabalho?”, afirma uma pessoa no vídeo.
Em outro trecho cobra que ele faça seu trabalho. “Vamos investigar o bolsolão do MEC, pastor fazendo reunião, o Bolsonaro gastando milhões em Viagra para o Exército. Cadê investigação, procurador? Aqui em Paris tem nada para encontrar, não. Tem que procurar lá em Brasília”.
Depois, uma pessoa ironiza Aras que, no final, foi xingado. “Tudo por uma vaguinha no STF, né? Tudo por uma vaguinha”.
Não aceita críticas
Aras também processa o professor da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da Folha, Conrado Hübner Mendes, por calúnia, injúria e difamação por postagens críticas ao PGR em suas redes sociais e por um artigo publicado no jornal sob o título “Aras é a antessala de Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional”.
Liberdade para poucos
Enquanto não aceita receber críticas por sua atuação na PGR, Augusto Aras atua no sentido oposto quando é para proteger o próprio chefe.
Ele descarta investigar Bolsonaro por ameaças e faz comparações absurdas, como quando defendeu o ‘direito’ de Jair Bolsonaro (PL) ameaçar e atacar as instituições democráticas do país.
Há alguns dias, Aras comparou Bolsonaro ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e declarou que a “mera fala” não induz ao crime, destacando que os discursos do presidente brasileiro se inserem no contexto da “retórica política” e da “liberdade de expressão” e deixando claro que não devem ter repercussão jurídica.
Em outro episódio recente, cometeu um ato falho que desmente suas próprias argumentações.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, por meio do seu advogado, Ticiano Figueiredo, procurou o PGR na tentativa de se livrar de um depoimento na Polícia Federal (PF) em um processo que investiga o senador Renan Calheiros (MDB-AL).
O pedido foi exposto por engano pelo próprio Aras em seu status no WhatsApp. A mensagem deveria ser encaminhada a um auxiliar.
O advogado do ministro quis marcar uma reunião fora da agenda com o PGR, no último dia 25.
“Seria possível receber o advogado do Paulo Guedes, o dr. Ticiano Figueiredo, por cinco minutos? Assunto: possível dispensa de Paulo Guedes, junto à PF, em processo investigativo contra Renan Calheiros, onde Guedes não é parte”, diz trecho da mensagem.
“Sim. Falaremos por celular e ajustaremos”, é a resposta.
Os textos foram excluídos por Aras na quarta-feira à noite, minutos depois da publicação, segundo a Folha de S.Paulo.
Paulo Guedes foi chamado para depor no inquérito contra Renan Calheiros por supostas fraudes no Postalis, fundo de pensão dos Correios.