
De 1547 até a Revolução de 1917, a Rússia foi comandada por um sistema político chamado czarismo. O nome é referente ao título que se dava ao Imperador russo em questão, que governavam com poder absoluto.
Como um imperador, agiam sempre visando o bem da grandeza imperial, na qual o papel do czar se confundia com o Estado, um sistema parecido com o absolutismo.
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O último czar russo foi Nicolau II, que teve uma gestão marcada por diversos episódios trágicos e negativos. A trajetória de Nicolau II no poder foi uma das piores; terminando com sua queda e a execução de sua família — julho de 1918 —, para a implantação de um governo que levasse em consideração as demandas do povo.
A saga de Putin no poder
Em 31 de dezembro de 1999, o primeiro presidente da Rússia após o colapso da União Soviética, Boris Nikolayevich Yeltsin, anunciou que renunciaria ao cargo. Seu mandato foi marcado por diversos problemas públicos, muitos deles relacionados ao alcoolismo.
Yeltsin sugeriu que seu lugar fosse ocupado pelo ex-agente da KGB Vladimir Putin, que até então era Primeiro-Ministro da Rússia. Putin tomou posse como tal em 7 de maio de 2000, após ser eleito no primeiro turno com 53% dos votos.
Após seus dois mandatos como presidente da Rússia, entre 7 de maio de 2000 e 7 de maio de 2008, Vladimir Putin volta a ser primeiro-ministro do país, visto que a constituição russa, assim como a nossa, só permite que um candidato cumpra dois mandatos seguidos no cargo mais alto do país.
Neste período longe da presidência, Dmitri Medvedev esteve à frente de uma das maiores nações do mundo. Atualmente, muito se debate sobre Putin ter tido, ou não, influência sobre a gestão de Medvedev. De acordo com a BBC, existem especulações que ele era o homem que realmente tomava as decisões no país.
Em 2017, a Rede TVT exibiu uma série de quatro episódios chamada “Entrevistas com Putin”, em que o cineasta Oliver Stone entrevistou o presidente russo. Os dois se encontraram mais de dez vezes em um período de dois anos.
Entre os assuntos tratados, o estadunidense o questionou sobre seu período que Putin passou como premiê da Rússia: “Você trabalhou com dedicação quando foi primeiro-ministro também”.
“Sim, trabalho muito e com muito êxito, em geral”, respondeu. “Mas nessa época, o presidente da Rússia era outra pessoa, não eu. Conheço as opiniões sobre este período em nosso país e no exterior. Devo dizer que o presidente Medvedev executou suas funções de forma independente”.
Um czar nos tempos de hoje?
Durante a entrevista, o cineasta indagou para Putin: “Dizem que quer ser um czar. Isso é… que você é um novo czar. Está em capas de revistas por aí…”. Putin riu da pergunta e respondeu: “Eles [imprensa internacional] gostam dessa ideia, é por isso que falam isso. Eles não conseguem se livrar desses velhos esteriótipos”.
Stone então recordou da vez que o presidente russo foi entrevistado por Charlie Rose, apresentador de um programa na CBS. A gravação foi realizada em 24 de setembro de 2015 e exibida dois dias depois na rede estadunidense. “Como você sabe, alguns chamam-no de czar”, falou Rose na ocasião. “E daí? As pessoas me chamam de várias formas”, retrucou o russo. “E o nome não corresponde?”, prosseguiu o apresentador.
Não, não combina comigo. Não é importante como me chamam, sejam meus partidários, amigos, ou opositores políticos. O importante é o que você pensa de você mesmo, o que tem de fazer pelo interesse do país que confiou em você e colocou você à frente do Estado russo”, afirmou Putin.
Sobre a entrevista, Stone relembrou: “Mas você deixou Charlie Rose fazer um comentário no qual dizia: ‘Você tem todo o poder, pode fazer o que quiser’. Ele deixou isso muito claro, porque é assim que muitos americanos pensam, que não há um sistema aqui. E você não o corrigiu”.
“A questão é”, respondeu Putin. “Não se trata de ter muito poder, mas de usar todo esse poder da forma correta. Stone então rebateu: “Bom, então você deveria demitir o intérprete também”, e se surpreende ao descobrir que era a mesma pessoa que o auxiliava nas conversas com Putin. “Porque diz isso?”, indagou o profissional. “Acho que ele não entendeu a pergunta que Rose estava fazendo. Era em inglês, soava como se ele fosse o czar, e tomou por certo que ele era czar”, explicou o cineasta.
Ele, provavelmente, estava tentando debater, iniciar um debate, mas eu não quis discutir com ele”, explica o presidente russo.
Mandato sem fim
Em novembro de 2008, uma das primeiras emendas propostas pelo recém-eleito Dimitri Medvedev dizia respeito ao artigo 81, que aumentaria o mandato presidencial russo de quatro para seis anos. “Para Putin, foi ótimo, porque, oficialmente, quem propôs isso foi Medvedev, e não ele”, explica Vladimir Gel’man, expatriado russo que ensina política russa na Universidade de Helsinque (Finlândia), em entrevista à BBC. “Putin estava à sombra, mas foi o maior beneficiário dessa mudança”.
Essa mudança deu à Putin, quando foi reeleito para seu terceiro mandato, que aconteceu de 2012 a 2018, a possibilidade de ficar no poder, por mais 12 anos — o que se concretizou quando ele venceu seu quarto pleito presidencial em 2018, recebendo mais de 76% dos votos. Com isso, seu quarto mandato, que está em curso, teria que durar até 2024.
Porém, conforme noticiado por diversos veículos, Putin assinou uma lei que garante algo recorrente: sua manutenção no poder. Afinal, com a medida assinada, ele poderá concorrer por mais dois mandatos. Assim, caso fosse reeleito nas duas próximas vezes, ele manteria-se no poder da Rússia até o ano de 2036.
Com informações da BBC e agência DW