
O ministro da Justiça, André Mendonça, pediu que a Polícia Federal abrisse um inquérito para apurar uma postagem em abril, no Twitter, pelo atual candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL). A informação foi revelada pela coluna do jornalista Rubens Valente, no Uol, na segunda-feira (28).
De acordo com a coluna, Mendonça acolheu um pedido do deputado federal José Medeiros (Pode-MT), um ferrenho defensor do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. Até o fim da noite de ontem, mesmo procurado, o Ministério da Justiça não deu qualquer declaração a respeito do caso.
A existência do inquérito na PF já havia sido revelada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Em 20 de abril, Boulos escreveu em sua rede social: “Um lembrete para Bolsonaro: a dinastia de Luís XIV terminou na guilhotina…”
Naquele dia, Bolsonaro havia dito, na saída do Palácio da Alvorada, que ele era a própria Constituição brasileira. Assim, Boulos fazia referência ao absolutismo francês do século 17, sintetizada na frase “o Estado sou eu”, atribuída ao rei Luís XIV (1638-1715).
Medeiros provocou o Ministério da Justiça dois dias depois, em 22 de abril, quando o ministro ainda era o ex-juiz federal Sergio Moro. Ele deixou o cargo no dia 24 de abril. Dias depois, já no cargo de ministro da Justiça, o ex-advogado-geral da União, André Mendonça, enviou ofício sobre o assunto à Polícia Federal, que abriu a investigação.
Presidência e GSI a postos
Segundo fontes, Mendonça também enviou um ofício para a Presidência a fim de informar as medidas que foram tomadas. A partir da requisição do ministro, a PF abriu um inquérito na Diretoria de Inteligência Policial (DIP), uma das seis diretorias vinculadas ao gabinete do diretor-geral do órgão.
Além do então ministro Moro, José Medeiros procurou o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, com pedidos semelhantes, nos dias 22 de abril e 1º de junho. No ofício ao Ministério da Justiça, Medeiros perguntou qual a intenção da postagem de Boulos, se ele “pretende sugerir” que Bolsonaro “seja decapitado?”
“É inadmissível que alguém faça uma insinuação desse tipo e não responda criminalmente por isso”, escreveu o deputado federal. “O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sofre ameaças e incitações de morte diuturnamente por parte de artistas, deputados, ex-candidatos à presidência, como se fosse algo normal e aceitável. Aliás, esses agressores denominam tais atitudes como ‘ódio do bem'”, disse o deputado no ofício.
O advogado de Boulos, Alexandre Pacheco Martins, disse que as alegações do deputado não têm lógica e que a manifestação do atual candidato à prefeitura de SP não incitou nem sugeriu nenhum ato de violência, sendo apenas um comentário de cunho histórico.
“É tão absurdo, juridicamente falando, que apesar de toda a parte política que está por trás desse inquérito, ao final a própria Justiça, a própria Polícia Federal vão concluir que não tem justa causa, não faz sentido, não tem crime para ser investigado. É algo que naturalmente vai se encerrar. Já começa sem razoabilidade nenhuma”, disse o advogado.
A Polícia Federal informou que “investiga fatos, e não pessoas” e que o inquérito segue sem conclusão e “sem juízo formado de convicção” a respeito de cometimento de algum crime.
Boulos foi intimado nesta terça
Nesta terça-feira (29), Boulos foi intimado pela PF a prestar depoimento por conta de críticas na internet ao presidente. As informações foram novamente publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo, que diz que ele deve ser interrogado como parte do inquérito aberto pelo DIP.
Ao tomar conhecimento da decisão, Boulos usou as redes sociais para repudiar a atitude da corporação. Ele alegou que a PF foi usada indevidamente por Bolsonaro, contra quem concorreu à Presidência da República nas eleições de 2018.
Segundo Boulos, o presidente quer intimidá-lo e prejudicá-lo no pleito deste ano. Ele ainda comentou que o Bolsonaro recorreu à PF porque está com medo de que o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP), vice-líder do governo no Congresso Nacional, perca as eleições para a prefeitura paulistana — segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha, na semana passada, o parlamentar lidera as intenções de voto na capital, com 24%. O atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), é o segundo, com 20%, enquanto Boulos aparece em terceiro, com 9%.
“Há um mês da eleição?”
“Nós não temos medo nem rabo preso. Bolsonaro está usando a PF para nos intimidar e eleger Russomanno. Isso mostra que eles têm medo da nossa candidatura, porque ela é a que tem mais chances de ir ao segundo turno e derrotar o Bolsodoria em São Paulo”, criticou Boulos, fazendo referência também ao governador João Doria (PSDB). Ele também reclamou que o sonho de Bolsonaro “é transformar a PF numa Gestapo”, a polícia secreta oficial da Alemanha Nazista.
O candidato ainda criticou que a corporação não seja utilizada para investigar a primeira-dama, Michelle, por ela ter recebido R$ 89 mil em depósitos efetuados por Fabrício Queiroz, suspeito de integrar um esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) quando era assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e movimentar cerca de R$ 1,2 milhão em nome do filho do presidente.
“Às vezes eu fico pensando se a Polícia Federal e o Ministério da Justiça não têm outras coisas para fazer, como, por exemplo, investigar o Queiroz”, atacou Boulos.
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República não quis se pronunciar.
Com informações do UOL e Correio Braziliense