
Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso da vacina da Pfizer contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem declarado “guerra” ao imunizante e ao órgão que proferiu a aprovação, e usado como armas de ataque, manobras covardes do governo, forjadas no seu negacionismo contínuo.
Já de início, Bolsonaro tem distorcido dados para levantar dúvidas sobre a segurança e eficácia dos imunizantes, especialmente nos mais jovens. E não parou mais. No dia 02 de dezembro, antes da aprovação da Anvisa sobre o uso do imunizante da Pfizer contra a covid-19 em crianças, Bolsonaro declarou que vacinar crianças contra covid era “uma decisão, realmente, complicada para qualquer pai”.
Depois da liberação, Bolsonaro pediu os nomes dos integrantes da Anvisa que aprovaram a indicação da vacina para crianças. A atitude foi vista por muitos como um ato de intimidação aos funcionários da Anvisa. Servidores que compõem o corpo técnico da Anvisa resolveram expor seus nomes como forma de reagir à intimidação de Jair Bolsonaro.
No dia 28 de outubro, cinco diretores da Anvisa receberam ameaças de morte por e-mail caso houvesse aprovação pela agência de vacinas contra a covid-19 para crianças. No dia seguinte, uma segunda correspondência eletrônica, desta vez anônima, fez ameaças a servidores, diretores, funcionários terceirizados e seus familiares.
Não satisfeito, Bolsonaro pediu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que os pais ou responsáveis de menores de 12 anos deveriam assinar um termo de responsabilidade para vacinar as crianças, além da exigência de receita médica. Além disso, Queiroga instituiu uma audiência pública para discutir a vacinação de crianças.
Antônio Barra Torres rebate Bolsonaro
Na última quinta-feira (6), durante uma entrevista para o canal de TV Nova Nordeste, Bolsonaro questionou os interesses da Anvisa em aprovar a vacinação infantil contra a covid.
“Você vai vacinar o teu filho contra a algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade dele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?”, questionou Bolsonaro.
O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, emitiu uma nota onde rebateu as críticas de Bolsonaro e o desafiou a apresentar algum documento que indique que ele tenha cometido algum tipo de corrupção na condução da Anvisa.
“Se o senhor dispões de informações que levantem o menor início de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determina imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar”, desafiou Torres.
Após desafiar Bolsonaro, Barra Torres pediu ao ocupante do Palácio do Planalto que “exerça com grandeza o seu cargo”.
“Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate”, provocou Torres.
Além disso, Torres também mandou uma indireta para Bolsonaro e afirmou que, com cristão, “vai morrer digno” sem se apropriar do que não lhe pertence.
“Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meu pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter”, diz Torres.
A Reuters, uma das principais agências de notícias do mundo, destacou, em sua primeira página internacional, a nota de Antonio Barra Torres.
O governador socialista Flávio Dino (PSB-MA) comentou no Twitter a nota de Barra Torres. Dino disse que a nota “é o registro de um tempo em que a coação e a mentira são métodos de governo.”
O líder da Minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSB-RJ), ressaltou no Twitter que “estamos perdendo um tempo precioso para proteger os nossos filhos.”
No dia 22 de dezembro, a deputada socialista Tabata Amaral (PSB-SP) apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra o chefe do Executivo, o presidente Jair Bolsonaro (PL), e contra o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por, segundo eles, atrasarem injustificadamente a vacinação de crianças contra a covid-19.
O documento enviado à Corte máxima do Judiciário brasileiro é assinado também pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e pelo secretário de Educação da cidade do Rio de Janeiro, Renan Ferreirinha. O pedido deve ser encaminhado pelo Supremo à Procuradoria Geral da República (PGR), como acontece normalmente nesses casos.
“A cada dois dias, uma criança morre de covid no Brasil. Já temos vacinas para protegê-las, mas o governo insiste em trabalhar contra a vacinação”, criticou Tabata Amaral, ao anunciar a ação contra Bolsonaro.