
Em entrevista coletiva realizada na tarde desta quarta-feira (18) o presidente Jair Bolsonaro negou que tenha minimizado a gravidade da pandemia causada pelo avanço do coronavírus no Brasil e, diante da imprensa, afirmou que o Governo Federal já havia previsto a chegada da crise provocada pela doença.
Com quatro mortes confirmadas, mais de 400 casos diagnosticados e quase 9 mil suspeitas em 20 estados, a coletiva pretendia apresentar uma série de medidas a serem adotadas pelo Governo e seus ministérios, mas acabou dominada pelo apelo político de Bolsonaro.
A súplica advém após uma série de manifestações em Brasília, São Paulo de Rio de Janeiro pedirem seu impeachment ontem e hoje, inclusive durante sua fala. Há um novo panelaço agendado para as 20h30 desta quarta.
18 pessoas
Realizado de forma presencial, contraindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde de evitar aglomerações, o encontro serviu ainda para que Bolsonaro anunciasse uma nova contaminação em sua equipe.
Hoje, além do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, o presidente confirmou como positivo para coronavírus o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, de 61 anos. Com Albuquerque, sobe para 18 o número de pessoas próximas ao presidente contaminadas pela COVID-19.
Atos na Esplanada
Mesmo com o aumento dos casos em sua própria equipe, Bolsonaro considerou exagero as críticas de que tenha exposto populares ao risco ao participar das manifestações favoráveis ao seu governo no último domingo (15). Ele disse não se arrepender da decisão.
Em mais um capítulo de ataques à imprensa, o presidente afirmou que o real motivo dos julgamentos que vem recebendo se deve ao fato de “jornais” estarem construindo um “campo de batalhas” diante do povo.
“Esse sentimento de histeria começou a acontecer depois do dia 15 de março. Já tivemos problemas mais graves no passado, que não tiveram toda esta repercussão na mídia. É um problema grave, mas não podemos entrar ‘no campo’ da histeria ou da comoção nacional”, justificou.
Questionado se não havia infringido as normas determinadas pela OMS ao participar do evento na Esplanada, o mandatário voltou a negar que tenha convocado manifestantes.
No entanto, em discurso feito na cidade de Boa Vista (RR), antes de viagem para Miami, e depois, quando estava nos Estados Unidos, além de divulgação a partir da Secretaria de Comunicação do Governo, é possível comprovar o contrário.
“O movimento veio ao meu encontro. Sinal de que me entendem como líder. Não descumpri nenhuma recomendação dos órgãos de saúde”, disse, justificando que já havia recebido o segundo exame, também com resultado negativo.
Embora o protesto pró-Bolsonaro tenha sido marcado pela exibição de diversas faixas pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro negou também que tenha defendido o fechamento das instituições e elogiou publicamente a atuação das Casas, garantindo que seu Governo conta com o “apoio incondicional da Câmara e do Senado” para superar a crise.
Ataques
Sobre os panelaços ocorridos ontem e novamente agendados para a noite de hoje, em diversas cidades brasileiras, o presidente garantiu que encara os atos uma “expressão da democracia”. No entanto, em novo ataque à imprensa, disse que assistiria à Globo nesta noite apenas para saber se o “panelaço a seu favor”, marcado meia hora mais tarde, também será noticiado.
Na coletiva, Bolsonaro também voltou a ofender a jornalista Vera Magalhães, chamando-a de “mentirosa”, por noticiar que ele havia convocado novos atos no dia 30 deste mês.
Medidas
Entre as medidas emergenciais voltadas a garantir a contenção da pandemia e garantir ajuda aos 40 milhões de trabalhadores informais, o presidente anunciou a criação de um vale, que deverá começar a ser distribuído a partir da próxima semana.
O valor, que ficará em torno de R$ 200, será pago a pessoas sem acesso a benefícios sociais já pagos pelo governo, como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.
Além disso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu a antecipação de benefícios como a segunda parcela do décimo terceiro salário.
“Já fizemos antecipação de benefícios. Antecipamos para abril a segunda parcela do décimo terceiro para pensionistas e aposentados, o abono salarial. Desenhamos um programa de R$ 150 bilhões de combate inicial de combate a crise”, afirmou.
Congresso
Deputados podem votar, ainda hoje, o pedido de reconhecimento do estado de calamidade pública encaminhado nesta quarta pelo presidente.