
Após dias de crise por conta de uma postagem de teor homofóbico no perfil do Instagram do jogador de vôlei bolsonarista Maurício Souza, o Minas Tênis Clube (MTC) anunciou na quarta-feira (27) que o atleta não faz mais parte do clube. Maurício, que chegou ao Minas em agosto, disputou a Olimpíada de Tóquio pela seleção brasileira.
Em seu perfiil no Instagram, o jogador se manifestou sobre a saída. Ele diz que seguirá seu caminho “plantando o que acredita”:
“Não sou mais jogar do Minas! Agradeço aos meus companheiros, comissão técnica, meu fisio, ao meu diretor, presidência e sócios por tudo! Sigo meu caminho plantando o que acredito, meu legado continua! O que deixarei para meus filhos e netos é o que conta no final”, escreveu.
Após demissão, Maurício Souza provoca com post de beijo hétero
Após a repercussão de sua publicação sobre a bissexualidade do Superman, que acarretou em uma demissão, o jogador de vôlei Maurício Souza voltou a fazer postagens na manhã desta quinta-feira (28). Ele publicou uma foto do famoso herói beijando a Mulher Maravilha, a mesma imagem que Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) postou em seu perfil minutos antes.
Na última quarta-feira, o Minas Tênis Clube anunciou o desligamento de Maurício. No último dia 12, o jogador se envolveu em uma polêmica ao criticar a história em quadrinhos do novo Super-Homem, na qual há um beijo entre o personagem e uma pessoa do mesmo sexo.
“Ah é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar…”, escreveu o jogador. Ele ainda criticou a decisão da TV Globo de usar pronome neutro nas novelas, em respeito a pessoas que preferem não se identificar a um gênero específico.
O caso gerou uma crise entre os companheiros de equipe e patrocinadores, que pediram ao clube “medidas cabíveis”, tendo em vista que Maurício realizou um discurso de ódio.
Pedido de desculpas
O Minas, clube ao qual ele defendia, sofreu pressão de seus patrocinadores, a Fiat e a Gerdau, e impôs multa e afastou o jogador, que também teve de postar um pedido de desculpas. Depois de fazer a postagem inicial no Twitter, em um perfil que tinha pouco mais de 50 seguidores, o jogador postou nesta quarta-feira um vídeo no Instagram, onde tem mais de 320 mil fãs, com uma retração.
— Vim aqui para pedir desculpas, a todos que se sentiram ofendidos com a minha opinião. Eu defendo aquilo que acredito, não foi minha intenção. Assim como vocês têm direito de defender aquilo que vocês acreditam, eu tenho direito de defender o que eu acredito. Não precisamos brigar por isso — disse o jogador.
Maurício, entretanto, completou sua fala, dizendo que “infelizmente” não se pode “mais dar opinião”:
— Fico triste com tudo que está acontecendo, infelizmente a gente não pode mais dar opinião, colocar os valores acima de tudo, os valores de família, os valores do que a gente acredita. Mas os valores de vocês nós temos de respeitar a qualquer custo. Se não a gente é chamado de homofóbico, como preconceituoso. Eu não concordo com isso.
Douglas Souza comemora: ‘Grande dia’
Após lamentar o então desfecho do caso Maurício Souza, na terça-feira (26), o jogador de vôlei Douglas Souza comemorou, nas redes sociais, o desligamento do colega de seleção do Minas Tênis Clube. Inicialmente, o central seria afastado do time e teria de fazer uma retratação. Porém, o pedido de desculpas não foi o suficiente e, depois de pressão dos patrocinadores, o jogador foi demitido. “Homofobia não é opinião. Grande dia!”, publicou em sua conta no Twitter.
Na terça-feira, Douglas, o único jogador a se manifestar publicamente contra os posicionamentos preconceituosos do central, afirmou não se surpreender com o desfecho do imbróglio. E deixou claro que, para ele, um pedido de desculpas não contribui para resolver o problema da homofobia.
“O famoso não vai dar em nada né. Toda vez a mesma coisa, cansado disso de sempre ter falas criminosas e no máximo que rola é uma “multa” e uma retratação nas redes sociais. Até quando? Feliz pelas empresas se juntando contra e triste por atletas tentar passar o pano nisso. Vergonhoso. Todos os dias, todas as horas um dos nossos morrem. E o que temos? Uma retratação…..”, publicou Douglas em suas redes sociais.
Código de Ética da CBV prevê punição por homofobia
Maurício Souza pode ser punido pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), de acordo com seu Código de Ética. O documento prevê sanções a atletas, técnicos, funcionárias e dirigentes que protagonizarem episódios de preconceito.
De acordo com o artigo 43 do código, cabe aos atletas “rejeitar com energia e transparência qualquer tendência ou manifestação de violência, oriunda de diferenças étnicas, de cor, gênero, crença religiosos, portadores de deficiência, preferência política, condição financeira, social, intelectual, opção sexual, idade, condição marital, e o uso de drogas, estimulantes químicos desautorizados, a corrupção passiva ou ativa, tanto no âmbito esportivo, quanto fora dele”.
Já o artigo 45 diz que o atleta deve “manifestar opiniões de modo responsável, equilibrado e coerente com os princípios e interesses do clube que representar e das entidades esportivas às quais se vincula”.
Apesar de poder ser denunciado ao Conselho de Ética, Maurício dificilmente responderá a um processo no STJD do Vôlei. De acordo com o procurador do órgão, Fábio Lira, a conduta do jogador foi fora de competições, o que extrapola a competência do STJD.
— Creio que o atleta se infringiu alguma norma deve ter sido ao estatuto da CBV ou ao Código de Ética, e caberia aos conselhos de ética porque ele fez a manifestação dele fora das competições — disse.
Sem espaço na seleção
O técnico da seleção brasileira masculina, Renan dal Zotto, que irá conversar com Maurício na manhã desta quinta-feira (28), afirmou que no momento atual, por adotar postura preconceituoso, não caberia uma convocação ao jogador. O treinador disse, entretanto, que não se trata apenas doe Maurício, mas sim, de qualquer profissional que tiver postura semelhante:
— Não cabe uma convocação, seja qual for o profissional, e não estou falando de Maurício, qual for o profissional que tiver postura de preconceito, seja ele qual for também, hoje não tem como a gente incluir dentro de um grupo que presa o sentimento de equipe e representa o Brasil que é diverso, que é extremamente diverso. Nós representamos cada cidadão brasileiro. Pro Maurício, as portas não é que estão fechadas para ele, mas pra atos como este sim.
Também de acordo com o Código de Ética da CBV, ser vigilante ao comportamento dos atletas é uma das funções do técnico. E além disso, cabe ao comandante do time denunciar ao conselho atos que violam as normas. Diz o artigo 55 que o técnico deve “Manter permanente atenção sobre a conduta dos atletas, para esclarecer, prevenir, coibir e denunciar ao Conselho de Ética os atos de violência oriundas de diferenças étnicas, de cor, gênero, crença religiosos, portadores de deficiência, preferência política, condição financeira, social, intelectual, opção sexual, idade, condição marital, e o uso de drogas, estimulantes químicos desautorizados, além de indícios de corrupção que comprometam a imagem das entidades às quais representam e o bom nome do esporte”.
Renan dal Zotto falou sobre o artigo e lembrou que os jogadores pertencem aos clubes e são cedidos à seleção, que no momento, está parada.
— Hoje a seleção brasileira não está em atividade. Os atletas eles têm vínculos com seus clubes, eles pertencem a seus clubes e são cedidos à seleção brasileira. A próxima convocação será em abril. A gente fica triste porque durante cinco anos nunca houve qualquer tipo de manifestação ou inconveniência, sempre teve um convívio muito saudável — disse o treinador.
Com informações do jornal O Globo