Segundo o procurador-geral da República, força-tarefa da Lava Jato tem “caixas de segredos”

O procurador-geral da República, Augusto Aras, acusou integrantes da Lava-Jato e do Ministério Público Federal (MPF) de Curitiba de “bisbilhotar” e investigar ilegalmente 38 mil pessoas. Segundo ele, a força-tarefa no Paraná é uma “caixa de segredos”.
“O Ministério Público [Federal] em todo o Brasil tem 40 terabytes [de memória de computador], para funcionamento do seu sistema, e a força-tarefa de Curitiba dispõe de 350 terabytes somente para si. E 38 mil pessoas com seus dados lá depositados, ninguém sabe como foram escolhidos, quais os critérios empregados”, afirmou Aras.
“Não se pode imaginar que uma unidade institucional se faça com caixas de segredos, uma instituição da República não se pode servir da extorsão, da bisbilhotice, não pode se valer de nenhum propósito não republicano”, disse o procurador-geral.
Afirmações ocorreram durante a webconferência promovida pelo grupo de advogados Prerrogativas com o tema “Os Desafios da PGR em Tempos de Pandemia”.
Aras afirmou ainda que recentemente foram descobertos 50 mil documentos invisíveis à corregedoria.
“Não podemos aceitar 50 mil documentos sob opacidade. É um estado em que o PGR não tem acesso aos processos, tampouco os órgãos superiores, e isso é incompatível”, afirmou.
Racha no MPF
Enfrentando divisões e forte oposição em diversas alas dos Ministérios Públicos Federais nos Estados, Aras comparou alguns membros do MPF, sem nominá-los, a um “caçador que fica na beira da lagoa para atirar ou flechar a presa, porque a sua natureza é derrubar a presa”.
O ápice da crise, que opõe a cúpula da instituição em Brasília e integrantes das forças-tarefas da Lava Jato, ocorreu quando Aras determinou que todos os arquivos de investigações das forças-tarefas de Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal fossem compartilhadas com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em Curitiba, a força-tarefa recebeu a visita de Lindôra Araújo, uma das principais auxiliares de Aras. Mas se recusou a entregar os dados, questionando a legalidade da busca e acusando o procurador-geral de “manobra ilegal”. No entanto, medida que foi ratificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O embate ainda foi agravado recentemente depois que o procurador-geral publicou edital, em 24 de julho, que pode acabar com a dedicação exclusiva de procuradores que atuam em casos de corrupção. Se for tornada regra, forças-tarefas também terão de participar de procedimentos de outras naturezas, acumulados às investigações sobre corrupção.
Com informações dos veículos Valor e Folha de S.Paulo