
O ministro das Relações Exteriores do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), Ernesto Araújo, se envolveu em mais uma discussão polêmica que repercutiu ao longo de toda esta quinta-feira (11).
A confusão começou depois que o chanceler brasileiro foi ao Twitter rebater uma reportagem veiculada no canal CNN norte-americana, afirmando o presidente Jair Bolsonaro não adotou medidas para conter a pandemia da Covid-19 por causa de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A afirmação de Araújo, no entanto, foi rebatida pelo próprio ministro da Corte, GIlmar Mendes, que na mesma rede chamou o texto de “fake news”.
Leia também: Brasil é único país emergente contra suspensão de patentes de vacinas na OMC
Na publicação, escrita em inglês, o ministro afirmou: “NOTÍCIA FALSA! A verdade é que o Supremo Tribunal Federal decidiu que as administrações federal, estadual e municipal têm competência para adotar medidas de distanciamento social. Todos os níveis de governo são responsáveis pelo desastre que enfrentamos.”
A matéria do canal americano, que deu origem à mais uma escândalo diplomático, criticou a postura do presidente ao longo da pandemia da Covid-19 e o responsabilizou pelo alto número de mortes no país.
O especialista convidado pela emissora, Dennis Carroll, afirmou que a falta de liderança do Chefe de Estado brasileiro é responsável pelo descontrole da doença. O comentarista também comparou as ações de Bolsonaro às de Donnald Trump, ex-presidente americano.
Fake um
Incomodado com as informações passadas pela CNN, Ernesto foi ao Twitter e escreveu vários pequenos textos em resposta à emissora. Nas mensagens, ele justificou a inoperância de Bolsonaro, afirmando que ele não tinha competência para agir em razão da determinação do Supremo.
“A CNN entende tudo errado sobre o Brasil e a Covid. Aqui estão os fatos: após uma decisão do Supremo Tribunal de abril de 2020, os governadores dos estados – não o presidente – têm, na prática, toda a autoridade para estabelecer/gerir todas as medidas de distanciamento social”, afirmou.
Leia também:#BolsoCaro: Após um ano de pandemia, preço dos alimentos subiram 15%
Conforme dito por Gilmar Mendes em sua resposta, a decisão do tribunal não impedia o presidente de tomar qualquer decisão relacionada à pandemia, apenas definiu que a União, os estados e os municípios possuem “competências concorrentes na área de saúde pública” para atuar durante o período
Fake dois
Ainda em sua primeira publicação, Ernesto Araújo prosseguiu com a defesa de Bolsonaro afirmando que o governo federal havia repassado US$ 98 bilhões (aproximadamente R$555 bilhões) para auxiliar os sistemas de saúde dos estados.
Leia também: Marco Aurélio envia queixa-crime de Flávio Dino contra Bolsonaro à Câmara
Também em inglês, ele afirmou: “Presidente Bolsonaro enviou US$ 98 bilhões para os estados em 2020 para manter e expandir seus sistemas públicos de saúde com mais leitos de UTI etc. (o número de leitos de UTI havia diminuído em presidentes anteriores).”
Porém, de acordo com o Portal da Transparência, alimentado com dados do próprio governo, a quantia real enviada às unidades federativas foi de R$ 60,19 bilhões, quase 10 vezes menor que a declarada por Araújo.
A discussão em relação aos repasses federais, inclusive, não começou agora. Em 1º de março deste ano, governadores assinaram uma carta contestando valores que Bolsonaro divulgou nas redes sociais como sendo aqueles enviados para os estados. Segundo os 19 chefes dos Executivo estaduais do país, os dados do presidente estão distorcidos e não correspondem aos reais valores.
Fake três
Seguindo a defesa do trabalho “realizado” pelo seu chefe, o chanceler citou a comitiva que foi enviada à Israel para tratar de um spray nasal que, segundo o presidente “parece que é um produto milagroso”, como uma ação efetiva para ajudar o Brasil a sair do caos sanitário em que se encontra.
No embarque dos representantes brasileiros para a empreitada, Bolsonaro afirmou: “Como é para ser usado em quem está hospitalizado, quem está em UTI, eu acho que não tem problema nenhum usar esse spray no nariz do cara. O que é esse spray? Não sei, mas o que acontece: esse produto, há 10 anos, estava sendo investigado, estava sendo estudado para outro tipo de vírus”

Porém, o produto não possui eficácia comprovada e está em estágio inicial de testes, não tendo sido publicado ainda em nenhuma revista científica especializada. Jornais de todo o mundo, como o The New York Times, citaram os comentários de Bolsonaro sobre o produto como um mais um erro na gestão da pandemia no Brasil.
Leia também: Irritado com novo cenário político, Eduardo manda população ‘enfiar no rabo’ máscara contra Covid-19
“Enquanto as mortes de Covid-19 aumentam no Brasil, Bolsonaro saúda um spray nasal não testado”, afirmou o NYTimes, um dos maiores jornais do mundo.
Diante da repercussão, o presidente afirmou em um evento no Palácio do Planalto na quarta-feira (10) que a comitiva iria ao país buscar parcerias para a produção de vacinas.
Tréplica de Araújo
Após as postagens de Araújo e a resposta de Mendes, o ministro de Relações Exteriores voltou, na manhã desta quinta (11) ao Twitter para explicar sua colocação sobre o Supremo. Araújo reiterou sua afirmação de que Bolsonaro enviou dinheiro aos estados mas, na prática, quem tomou as decisões de como usá-lo foram os governadores.
Leia também: Casagrande e governadores assinam nota contra ‘fake news’ de Bolsonaro
“Por favor, leia de novo: depois da decisão da Suprema Corte, quer dizer ‘como consequência da’ e não ‘como diz literalmente (a decisão)'”, afirmou Araújo. “E eu disse ‘na prática’, indicando os efeitos na vida real da decisão. Na prática, os governadores tomaram as decisões e o governo federal pagou as contas”, afirmou Ernesto Araújo.