
Uma reportagem veiculada pelo jornal Asia Times repercutiu o avanço econômico da China em meio ao caos causado pela pandemia do coronavírus e à guerra híbrida com os EUA para expor as previsões sobre a nova mudança no xadrez econômico global.
Com o título “China forges ahead through chaos and threats” (China avança em meio ao caos e ameaças), o texto assinado pelo jornalista Pepe Escobar afirma que Pequim está turbinando suas iniciativas de Belt One Road (Cinturão e Rota) e outras mudanças econômicas em meio à mais profunda retração econômica em quase um século.
Confronto
A matéria também alerta que o presidente chinês, Xi Jinping, já havia deixado claro que a China precisava estar pronta para desafios “sem precedentes e implacáveis” em relação à política externa, ressaltando que Jinping não se referia apenas à possível dissociação das cadeias de suprimentos globais e à demonização ininterrupta de todos os projetos relacionados à Nova Rota da Seda, como é chamada a Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road).
A reportagem sublinha que um documento interno supostamente vazado na China, mas “obtido por alguma fonte ligada ao Ocidente” chegou a afirmar que “a China teria que “se preparar para o confronto armado entre as duas potências globais”, em clara referência aos EUA. “É como se essa fosse uma agressiva estratégia implantada inicialmente pelo estado chinês, e não em resposta à escalada maciça da guerra híbrida 2.0 com o governo dos Estados Unidos”.
Crescimento em meio à crise
No texto, o Asia Times destaca que, ao contrário de todas as previsões ocidentais, as exportações da China cresceram 3,5% em abril, em comparação com uma queda de 6,6% em março. “O crescimento do PIB da China caiu 6,8% no primeiro trimestre de 2020.
A recuperação já está em andamento. Oficialmente, o desemprego era de 5,9% no final de março – sem levar em conta os trabalhadores que voltaram para as grandes cidades depois de passar o pico da covid-19 no campo. Haviam projeções de desemprego de 20% – depois retraídas”.
Com a “União Europeia totalmente paralisada” e provando graficamente sua irrelevância em inúmeros níveis, o Ocidente em declínio, o texto afirma que esta parte do mundo está aterrorizada com o fato de a China estar no processo irreversível de se tornar a maior potência global. E segue, lembrando que “mesmo com a covid-19, o comércio da China com os países do Cinturão e Rota cresceu 3,2% no primeiro trimestre, o que não é ruim, mesmo quando comparado aos 10,8% de todo o ano de 2019”.
Motor da economia
A matéria também recorda que, de acordo com o Ministério do Comércio, o comércio de Pequim com os 56 países que integram o Cinturão, espalhados pela Ásia, África, Europa e América do Sul representa 30% do total do comércio anual. “Agora, compare-o com a contração de 13% a 32% na previsão comercial global da Organização Mundial do Comércio para 2020”, destaca.
“Isso implica que a China continuará sendo o principal motor da economia global”, com ou sem rompimento com os EUA, e com Belt and Road no centro da estratégia da política externa da China, juntamente com um sólido impulso em direção ao multilateralismo”, continua.
EUA
Também registra que por mais que a maior parte dos países da economia mundial não mostrem intenção de se separar da China, Pequim terá que estar pronta para combater a guerra híbrida de espectro total de Washington em todas as frentes – geoeconômica, cibernética, biológica e psicológica.
“Como detalhou Kishore Mahbubani em seu último livro, isso não significa que a China tenha a intenção – e a capacidade – de se tornar uma nova força do mundo. Certamente aumentará seu poder econômico e financeiro. E também há a mudança incessante em jogo que faz a cúpula dos EUA perder o sono: a parceria estratégica Rússia-China”.
Parceria com a Rússia
Segundo o analista, Moscou sabe muito bem que Washington está implantando sistemas de defesa antimísseis muito perto das fronteiras da Rússia – com potencial para causar um primeiro ataque nuclear. Pequim está acompanhando este avanço com atenção”. O fato de Moscou estar ciente disso é apenas parte da história: “o ponto principal é que a Rússia confia em armas sofisticadas, como os mísseis Sarmat e o Avangard, que cuidarão disso”, diz adiante.
O texto ainda menciona a instalação de laboratórios de armas biológicas do Pentágono na região da antiga URSS, “uma questão também acompanhada de perto por Pequim”. “Moscou identificou um laboratório perto de Tblisi, na Geórgia, e 11 na Ucrânia. E em 2014, quando a Crimeia foi anexada à Rússia, os cientistas também encontraram um laboratório em Simferopol”.
Parceria China-Rússia
Segundo Pepe Escobar, “toda essa informação – armas nucleares e armas biológicas – vem sendo trocada pelo alto comando da parceria estratégica Rússia-China”. A próxima grande jogada no tabuleiro de xadrez geopolítico aponta para a parceria das duas nações, negociando suas relações bilaterais com os EUA, como uma equipe.
E conclui, dizendo que esta poderia ser uma grande mudança de paradigma e que “nada poderia ser mais racional, considerando que” os dois países representam as duas principais “ameaças” aos EUA, de acordo com a Estratégia de Segurança Nacional.