
Enquanto a bancada ruralista na Câmara dos Deputados trabalha para aprovar o projeto de Lei (PL) 6299, conhecido como PL do Veneno, instituições que trabalham por uma moda justa, ética e responsável fizeram a entrega simbólica de um abaixo-assinado contra a proposta, com mais de 42 mil assinaturas, à Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara dos Deputados.
Unidas na campanha #ModaSemVeneno, as entidades Modefica, Rio Ethical Fashion e Fashion Revolution Brasil trabalham para conscientizar sobre os perigos reais da aprovação do projeto para toda a sociedade.
O Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do planeta e o algodão é a quarta cultura que mais consome agrotóxicos, sendo responsável por aproximadamente 10% do volume total de pesticidas utilizado no país. Entre os agrotóxicos mais utilizados está o glifosato, que pode causar diversos efeitos na saúde, como aborto espontâneo e câncer.
Para marcar a entrega do abaixo-assinado nesses tempos pandêmicos, as entidades realizaram uma live sobre o tema.
‘Não vista veneno’
Ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado estadual pelo Rio de Janeiro (PSB) Carlos Minc observa que a conscientização é o caminho para lutar contra os venenos a que somos submetidos todos dias.
“O agronegócio não é uma coisa só. Tanto é que a parte do agro exportadora está rompida com Bolsonaro, que a cada dia libera praticamente dois agrotóxicos. Em dois anos e meio da nefasta gestão do insano tirano, ele liberou 1,9 mil agrotóxicos. Imagina se a Lei do Veneno for aprovada? Uma parte do que foi liberado aqui, está proibido lá. Estão vendendo nos vendendo os estoques que não podem vender em seus países de origem”, criticou Minc na live.
Mas, para o movimento ganhar força, Minc observa que é necessário informar os consumidores.
“Produtos que vêm do desmatamento da Amazônia não conseguem mercado. Moda que venha do veneno tem que ter a mesma valorização positiva dos alimentos como ‘essa calça linda não tem veneno, não intoxicou o trabalhar nem o lençol freático’”, sugere.
O deputado Nilton Tatto (PT-SP), relator da comissão especial da Política Nacional da Redução de Agrotóxicos (PNaRa) e ex-presidente da Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara, também acredita que falta de informação é o que propicia que o uso de agrotóxicos ainda seja defendido setores da sociedade.
“Esse projeto, evidentemente, interessa a boa parte do setor da agricultura. Até porque as grandes corporações que dominam a cadeia de produção, acabam utilizando os pequenos agricultores que estão na cadeia do agronegócio, dizendo que a flexibilização dos agrotóxicos diminuiria os custos de produção e aumentaria a renda”, destaca.
Situação que acontece tanto na produção de alimentos como na de algodão. Fora os incentivos fiscais destinados os meios de produção tradicionais. Benefícios não compartilhados com produções agroecológicos e orgânicas, afirma.
Impactos do PL do Veneno
O primeiro impacto de uma possível aprovação da proposta é a desinformação. Isso porque retira as sinalizações de perigo das embalagens e altera o termo ‘agrotóxico’ para ‘defensivos agrícolas’ ou ‘produtos fitossanitários’.
Além disso, um estudo feito com mulheres expostas ao glifosato em Uruçuí (PI), em 2018, estimou que uma em cada quatro grávidas da cidade sofreu aborto espontâneo e que 83% das mães tenham o leite materno contaminado.
Sem contar com o risco que o PL representa para os próprios produtores de algodão. Europa e Estados Unidos caminham para a redução de agrotóxicos, enquanto produtos proibidos lá são os mais vendidos por aqui.
De acordo com a pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Larissa Bombardi, durante o Ciclo de Debates Sobre Agrotóxicos, da Assembleia Legislativa de São Paulo, em maio, a aprovação do PL do Venedo como estratégia de negócio é um “tiro no pé”.
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Avanços e retrocessos
Marina Colerato, diretora-presidente do Instituto Modefica, observa que quanto mais avançam as culturas tradicionais, menos espaço para outros tipos de produção que levam em consideração o respeito ao meio ambiente e às populações tradicionais.
“Tem todo um sistema funcionando para endossar essa agricultura com uso extensivo dos agrotóxicos. Cada avanço nos agrotóxicos significa retrocesso para agricultura agroecológica e orgânica”, ressalta.
Também participaram do debate Fernanda Simon e Heloísa Artuso, do Fashion Revolution Brasil, e Yamê Reis, fundadora do Rio Ethical Fashion.