
Alvo de deboche do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por ter sido torturada e presa pela ditadura militar, a jornalista Miriam Leitão, revelou em sua coluna no jornal o Globo, neste domingo (17), áudios de do Superior Tribunal Militar (STM) que comprovam a prática de tortura durante o regime.
São mais de 10 mil horas de áudios de sessões do STM durante os anos de chumbo. O material divulgado foi analisado pelo historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em uma das gravações, um general pede a apuração do caso de uma grávida que abortou aos três meses de gestação após ser torturada com choques elétricos nas genitais.
Em outro caso, um ministro confessa que um preso torturado a marteladas confessou o roubo de um banco.
Exército e Ministério da Defesa não se pronunciaram.
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STF determinou liberação das gravações
O historiador afirmou ao Globo que o advogado Fernando Fernandes solicitou acesso às gravações, mas o pedido foi negado.
Ele acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) e a ministra Carmén Lúcia determinou a entrega dos áudios.
A decisão, contudo, foi descumprida pelo STM até 2011, quando o plenário do STF confirmou a determinação de Carmén Lúcia.
O historiados começou a analisar o material em 2018. Ele está na metade do processo, que abrange 1975 e 1979, de acordo com o g1.
Não adianta negar que houve tortura
“Quando a gente vive tempos traumáticos, algumas pessoas tendem a criar memórias que as apaziguem com o passado. Outra coisa é a história. Não há dúvida que houve tortura, isso é óbvio. É até um pouco reiterativo, repetitivo dizer que houve tortura. Houve. Ponto final. Claro que houve. Outra coisa é a memória que algumas pessoas constroem, de negação da tortura”, disse o historiador.
Relatório da Comissão Nacional da Verdade, de 2014, responsabilizou 377 pessoas por crimes durante a ditadura, que incluem tortura e assassinato.
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O documento mostrou que haviam sido identificados 434 pessoas mortas e desaparecidas na ditadura. E contabilizou 230 locais de violações de direitos humanos.
Em resposta, o Clube Militar classificou o relatório como “coleção” de “calúnias” e de “absurdo”.