
Criticado por sua atuação em relação aos povos indígenas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi condecorado nesta quarta-feira (16) com a medalha do mérito indigenista. A honraria foi concedida pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, que também condecorou a si mesmo.
O despacho foi publicado nesta manhã no Diário Oficial da União. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) afirmou que vai contestar o ato na justiça.
A condecoração foi instituída em 1972 para homenagear pessoas que se destacam por trabalhos de proteção e promoção dos povos indígenas brasileiros.
A atitude do ministro ocorre em um momento em que Bolsonaro está empenhado em liberar a mineração e o garimpo em terras indígenas, com o PL 191/2020. E é vista como “uma afronta” também por seu histórico contrário a garantia de direitos dos povos indígenas.
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A coordenadora-executiva da Apib e liderança indígena, Sônia Guajajara, afirma que a entidade vai emitir uma nota de repúdio e entrar com uma ação judicial para anular o ato. “É um absurdo totalmente descabido. Recebe essa medalha quem luta junto e defende a causa indígena e não quem trabalha para destruir”, afirmou.
Além de Bolsonaro, Anderson Torres agraciou os ministros Braga Netto, da Defesa; Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos e Tereza Cristina, da Agricultura; além de condecorar a si mesmo.
Discurso desrespeitoso
Além de projetos de leis e decretos que desconsideram os direitos dos povos indígenas do Brasil, Jair Bolsonaro é sempre lembrado por suas falas polêmicas e desrespeitosas.
Entre elas, a frase “com toda a certeza, o índio mudou. Está evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”, disse o presidente ainda em janeiro de 2020, durante sua live em rede social.
Ou: “O índio é um ser humano igual a nós, não é para ficar isolado em uma reserva como se fosse um zoológico”, declarou em 2019 durante um evento no Rio de Janeiro.
Na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2019, disse em seu discurso de abertura que o cacique Raoni Metuktire era usado como “peça de manobra” por governos estrangeiros. Ele é uma das personalidades que já recebeu a medalha do mérito indigenista.
E, por fim, já neste ano, Bolsonaro cortou do orçamento verbas que seriam destinadas à proteção e promoção de povos indígenas. Além de ser contrário à demarcação de novas terras indígenas, o que enfatiza desde a campanha de 2018.