
‘Bolsolão’ é o apelido do escândalo do orçamento secreto de R$ 3 bilhões do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Desse valor, pelo menos R$ 271 milhões foram para tratores, retroescavadeiras e equipamentos agrícolas. No caso de 115 tratores ao preço de R$ 15 milhões, apenas 12 deles seriam comprados dentro dos valores de referência do próprio governo; o restante tem indícios de superfaturamento.
O orçamento secreto montado pelo governo federal montou refere-se a emendas para garantir apoio de sua base aliada no Congresso. As informações são do Estadão de domingo (9). Segundo a reportagem, o Ministério do Desenvolvimento Regional reconheceu em documento que foram os parlamentares, e não a pasta, que definiu a aplicação de R$ 3 bilhões em verbas.
Leia também: Bolsonaro faz passeio de moto e promove aglomeração no Dia das Mães
Os ofícios com a indicações dos gastos partiram de 37 deputados e cinco senadores, entre eles o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a hoje ministra Flávia Arruda (PL-DF), o ex-líder do governo na Câmara, Vítor Hugo (PSL-GO), e o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Socialistas reagem a ‘Bolsolão’
Parlamentares socialistas reagiram ao novo escândalo do governo Bolsonaro. O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), considera gravíssimas a denúncias de um orçamento paralelo. “Vamos representar ao TCU e MPF que investiguem o ‘Bolsolão'”, escreveu nas redes sociais.
A deputada Lídice da Mata (PSB-BA) ironizou a expressão “orçamento secreto”. “Eu chamo isso de outro nome”.
O deputado federal licenciado Denis Bezerra (PSB-CE) também comentou sobre o escândalo. “Um possível esquema de Bolsonaro para comprar apoios no Congresso e passar o seu pacote de maldades”, afirmou.
‘Bolsolão’ é o novo Anões do Orçamento
O caso está sendo comparado aos caso dos “Anões do Orçamento”, que no início dos anos 1990 culminou na instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e resultou na cassação de seis deputados. Outros quatro renunciaram ao mandato antes da conclusão das investigações.
Sob o governo Jair Bolsonaro, as emendas de relator voltaram com nova roupagem. Um identificador específico foi criado para elas em 2019, para valer no Orçamento de 2020. Um único parlamentar direciona os recursos que, na prática, são indicados por outros congressistas aliados do governo, sem que haja uma “digital” evidente desse direcionamento.
‘Bolsolão’ inclui ex-presidente do Senado
A matéria do Estadão analisou 101 ofícios de parlamentares a ministérios do governo Bolsonaro nos últimos três meses. Neles, os congressistas solicitam a compra de produtos e serviços, incluindo equipamentos agrícolas.
O ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), por exemplo, pediu que o ministro Rogério Marinho aplicasse R$ 277 milhões em verbas. O valor é maior do que ele poderia obter em emendas parlamentares, que são limitadas a R$ 8 milhões por ano. Alcolumbre precisaria de 34 anos para conseguir remanejar verbas públicas, portanto, conclui o jornal.
Tratores superfaturados
Um deputado de Rondônia pediu a compra de tratores, mas o preço era maior que o triplo registrado. O governo aceitou pagar R$ 359 mil num trator que, pelas regras normais, somente liberaria R$ 100 mil dos cofres públicos, revela a reportagem.
Apesar de terem base eleitoral 2 mil quilômetros distante de Goiás, dois deputados da região Norte, um do Amazonas e outro de Rondônia, destinaram R$ 4 milhões para Padre Bernardo (GO), no Entorno de Brasília. O dinheiro serviria para adquirir máquinas agrícolas. Mas, pela tabela do governo federal, elas custariam bem menos: R$ 2,8 milhões.
O ex-líder do governo Vítor Hugo disse ao jornal que “não houve sugestão de preços” para os equipamentos. Ele responsabilizou as prefeituras. Alcolumbre negou ter indicado tratores, que seriam usados no Paraná.
Codevasf vira estatal do Centrão
O esquema do presidente da República para controlar o Congresso foi além da criação de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões. Bolsonaro também expandiu e turbinou a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal loteada pelo Centrão que vai aplicar cerca de um terço desses recursos por imposição dos políticos que a controlam.
Criada à época da ditadura para desenvolver as margens do Velho Chico, a Codevasf tem uma história marcada por corrupção e fisiologismo. Neste ano, conseguiu um orçamento recorde de R$ 2,73 bilhões, composto principalmente por emendas, mas o governo fez cortes.
Em campanha pela reeleição, ‘incluiu na área de atuação da empresa mil novos municípios, muitos deles localizados a mais de 1.500 quilômetros das águas do São Francisco. Na prática, o governo transformou a “estatal do Centrão” num duto de recursos para atender interesses eleitorais.
Com informações do O Estado de S.Paulo, Uol e Brasil 247