
Médicos que defendem a vacinação de crianças para combater a covid-19 tiveram seus dados vazados. As informações haviam sido entregues ao Ministério da Saúde antes de participarem da audiência pública convocada pela pasta para discutir a vacinação infantil – o que foi realizado após a aprovação da imunização para as crianças de 5 a 11 anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBI), Izabella Ballalai, Marco Aurélio Sáfadi, da Sociedade Brasileira de Pediatria, e o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Ricardo Kfouri, tiveram seus celulares, e-mails e CPF vazados.
As declarações de conflitos de interesse apresentadas por eles também foram divulgadas. Esses documentos são normalmente entregues por médicos antes de participarem de eventos como audiências públicas. E trazem informações sobre para quais empresas foram prestados serviços nos últimos cinco anos.
Guilherme Boulos (Psol-SP) condenou o vazamento.
Conforme a jornalista Malu Gaspar, de O Globo, as informações enviadas ao ministério pelos médicos quando aceitaram o convite para participar da questionável discussão sobre a imunização das crianças. Esta, sim, nada usual.
A deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) e que, consequentemente, se posiciona contrariamente à imunização das crianças, confirmou à reportagem que enviou as informações dos médicos a um grupo de Whatsapp.
Mesmo assim, ela negou ser a responsável pelo vazamento. Disse que o próprio Ministério da Saúde a encaminhou os documentos.
“Compartilhei em um grupo de zap de médicos. Quando me avisaram no Ministério da Saúde que alguém havia postado, pedi imediatamente que quem o fez removesse. Mas o ministério me informou que os documentos iriam para o site. Por isso entendi que eram públicos”, se esquivou.
Leia também: Deputada bolsonarista Bia Kicis é investigada por crime de racismo
Porém, durante a audiência pública, Bia Kicis lançou suspeitas sobre Ricardo Kfoury e Izabella Ballalai, que teriam informado terem feito palestras patrocinadas pela Pfizer e AstraZeneca, ambas produtoras de imunizantes para a covid.
Ballalai é diretora na Vaccini, rede de franquias de vacinação. Nas redes bolsonaristas foi taxada como grande empresária do ramo.
“Eu sou contra e sempre fui contra à vacinação na rede privada. Isso só iria aumentar a desigualdade no acesso à vacina contra a covid. Além disso, todas as experiências nesse sentido nos países onde foi tentado, como na Índia, deram errado”, afirmou.
Médicos querem explicação
Os médicos que integram a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 cobram uma explicação pública do Ministério da Saúde sobre a exposição a que foram submetidos os colegas.
Por conta disso, a secretária extraordinária de enfrentamento à covid do ministério, Rosana Leite de Melo, publicou uma nota em negou ter autorizado a divulgação dos documentos.
Disse ainda que iria investigar como os documentos foram parar nas mãos de Bia Kicis e nas redes sociais. Mas nada foi feito até agora.