
A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) criticou nesta sexta-feira (28) visita do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a comunidades indígenas em São Gabriel da Cachoeira (AM). O mandatário esteve na localidade para inaugurar uma ponte de 18 metros e ainda inventou uma etnia que não existe, o povo “Balaio”.
Segundo a entidade, o chefe do Executivo não se reuniu com as instituições que ajudam a combater a pandemia de Covid-19 e sequer fez menção ao combate ao garimpo ilegal, narcotráfico e outros assuntos atingem as terras indígenas.
“Bolsonaro mais uma vez ignora os problemas e humilha o povo brasileiro. O presidente não encontrou com as instituições que mais ajudaram a combater a pandemia de Covid-19 aqui na região e sequer fez menção ao combate ao garimpo ilegal, narcotráfico e outros assuntos graves que assolam as terras indígenas aqui na região da tríplice fronteira com a Venezuela e Colômbia.”
Marivelton Barroso, do povo Baré, presidente da Foirn
Povo “Balaio” citado por Bolsonaro não existe
O movimento também protestou dizendo que “o desprezo por nosso povo indígena é tanto que o presidente sequer se deu o trabalho de conhecer nossa diversidade, criando ao seu bel-prazer uma nova etnia, a do povo Balaio, que não existe no Brasil e em nenhum lugar do mundo.”
Bolsonaro postou um vídeo da visita a São Gabriel da Cachoeira na sexta (28) chamando os índios de “nossos irmãos”. Neste sábado (29), ele postou novo vídeo, dessa vez, da visita de sexta a uma feira na cidade. Houve aglomeração de pessoas, a maioria sem máscaras, inclusive o próprio presidente.
Nota da FOIRN sobre visita de Bolsonaro
São Gabriel da Cachoeira, 28 de maio de 2021
Nós, 23 povos indígenas do Rio Negro, representados pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), organização fundada em 1987 para defender nossos direitos à terra e à autodeterminação, deixamos pública a nossa profunda insatisfação com a conduta do presidente da República, Jair Bolsonaro, em sua visita ao município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, nos dias 27 e 28 de maio de 2021.
Finalizamos em 2020 os nossos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), previstos na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI). Esses planos, feitos junto com a Funai, são documentos nos quais apontamos os rumos para o desenvolvimento nos nossos territórios. Entretanto, mesmo a Foirn sendo a instituição que há mais de três décadas trabalha em prol de políticas públicas para os povos da região, não fomos incluídos na agenda e sequer convidados para qualquer diálogo com o presidente da República a respeito destes planos de gestão e outros temas de nosso interesse.
O líder máximo do Brasil, contudo, preferiu uma agenda feita “as escondidas”, na qual ele e seus assessores se deram ao trabalho de “preparar palanque” para fotos e vídeos de sua campanha eleitoral para 2022. Ao invés de convidar as lideranças e instituições reconhecidas e comprometidas com o coletivo, privilegiou uma agenda com líderes autoproclamados, como ocorreu na Terra Indígena do Balaio, para mais uma vez produzir fake news e narrativas grotescas sobre nosso povo e nossa cultura. Em sua live semanal, gravada ontem no Pelotão de Fronteira de Matucará, o presidente comparou a medicina tradicional indígena com o kit Covid, tentando ridicularizar a CPI do Senado, que investiga às denúncias de prescrição de remédios sem eficácia, como a cloroquina. Mais uma vez, Bolsonaro demonstra apreço em confundir a opinião pública para se livrar de acusações graves em relação à condução da gestão da pandemia de Covid-19, que já matou mais de 450 mil brasileiros.
O desprezo por nosso povo indígena é tanto que o presidente sequer se deu o trabalho de conhecer nossa diversidade, criando ao seu bel-prazer uma nova etnia, a do povo Balaio, que não existe no Brasil e em nenhum lugar do mundo. Seu ato de simplificar e generalizar não condiz com sua posição de presidente da República. “Bolsonaro mais uma vez ignora os problemas e humilha o povo brasileiro. O presidente não encontrou com as instituições que mais ajudaram a combater a pandemia de Covid-19 aqui na região e sequer fez menção ao combate ao garimpo ilegal, narcotráfico e outros assuntos graves que assolam as terras indígenas aqui na região da tríplice fronteira com a Venezuela e Colômbia”, ressalta Marivelton Barroso, do povo Baré, presidente da Foirn.