
Noventa anos após a conquista do voto feminino no Brasil, o país segue com apenas 15% das cadeiras da Câmara dos Deputados e do Senado ocupadas por mulheres. Já as prefeituras brasileiras tem apenas 12% de mulheres à frente do executivo municipal. E nos últimos 20 anos apenas três mulheres foram candidatas à Presidência da República:
Os números mostram uma progressão lenta quanto à representatividade de gênero desde a promulgação do Código Eleitoral de 1932, quando as brasileiras passaram a ter o direito de votar e serem votadas. Desde 2009, os partidos políticos brasileiros são obrigados a incluir ao menos 30% de candidaturas femininas para cargos eletivos.
Mas os repasses proporcionais entre dos recursos só começou a ser obrigatório apenas em 2018. Com a mudança, o Congresso Nacional elegeu 84 mulheres, sendo 77 deputadas e 7 senadoras nas últimas eleições. Com isso houve um aumento de 52,6% da presença feminina nas duas Casas em comparação a 2014.
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Dados da União Interparlamentar (UIP), entre 190 países, o Brasil é hoje a 144º nação quanto a participação de mulheres na política. A luta das mulheres por mais espaços de representação feminina na política é antiga no Brasil. Em 1810, por exemplo, a professora e escritora Nísia Floresta lutava para a emancipação das mulheres por meio da Educação, no Rio Grande do Norte.
Foi também nesse Estado que se tem notícias da primeira mulher a conseguir se alistar como eleitora, em 1887, Isabel de Souza Mattos, mas ela foi impedida de votar. Em 1928, o país alistou as duas primeiras eleitoras: Celina Guimarães e Júlia Barbosa. No entanto, os votos das duas foram invalidados pelo Senado. Só com as sufrágio, o voto feminino se consolida e o Brasil tem as primeiras eleitas: Carlota Pereira Queirós e Bertha Lutz.
Para a deputada federal Lídice da Mata (PSB) esse ano será marcado por um grande desafio para as mulheres na política brasileira. No ano em que se completa nove décadas do voto feminino, o país enfrenta uma eleição presidencial polêmica para conter os retrocessos do governo de Jair Bolsonaro (PL). Porém, é preciso focar também nas eleições parlamentares para aumentar a proporção de cadeiras ocupadas por mulheres.
Em 1986, Lídice foi eleita deputada federal Constituinte e integrou a chamada “bancada do batom. Na ocasião apenas 26 mulheres foram eleitas para a Câmara entre 166 candidatas. O número representou um aumento de 1,9% para 5,3% na representação feminina no Parlamento.
“Avançamos, mas temos muitos espaços a conquistar. Ainda existe muita dificuldade de aceitação da figura feminina no espaço público. As mulheres representam mais de 50% do eleitorado e da população brasileira. A nossa presença tem crescido na política, ainda que devagar.Isso, numa sociedade machista e patriarcal incomoda, e muito.”, avaliou em artigo publicado nesta segunda-feira (7) na Carta Capital.
Mulheres no PSB
Militante do PSB desde 1990, Yara Gouvêa está na luta por mais mulheres na política há mais de cinco décadas e garante que essa é uma causa que exige fôlego e muita capacidade de diálogo. “A luta para que mulheres ocupem os mesmos espaços que os homens na política é ainda uma caminhada longa.
Professora Yara, como é conhecida, é secretaria Distrital de Mulheres Socialistas, além de integrar o Conselho Curador da Fundação João Mangabeira (FJM). Para Yara o 8 de março é uma data fundamental para lembrar que é preciso ousar lutar, ousar vencer. “Nós mulheres precisamos ousar ocupar os espaços políticos. E ter mulheres na política é promover uma sociedade mais justa; uma sociedade que não tenha apenas uma visão masculina das questões sociais, políticas, econômicas e culturais”, opina.