No entanto, nas regiões mais ricas do país, o Sul e o Sudeste, houve um aumento no número de beneficiários

Com o afrouxamento do Orçamento neste ano por causa da pandemia, mais dinheiro foi destinado ao Bolsa Família e o governo atendeu a mais pessoas carentes. No entanto, de acordo com a Folha, o programa atendeu menos famílias nas regiões Norte e Nordeste em maio deste ano do que no mesmo período de 2019.
São 433 mil famílias aptas a receber o benefício e que ainda aguardam liberação, segundo dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Esta é a primeira vez que o Ministério da Cidadania revela oficialmente o tamanho da fila desde que a equipe de Bolsonaro passou a controlar o acesso ao programa em junho de 2019.
O valor extra para o Bolsa Família na pandemia permitiu que o Cidadania incluísse cerca de 1,2 milhão de famílias. Isso, contudo, não representou uma retomada do programa ao período anterior aos cortes.
Ao contrário do esperado, Norte e Nordeste ainda não se recuperaram totalmente e houve queda de aproximadamente 1,5%, enquanto que Sul e Sudeste registraram uma ampliação da cobertura de 1,21% e 1,33%, respectivamente.

Sistema desatualizado
O governo usa um mecanismo estatístico com base em dados colhidos no Censo de 2010, realizado pelo IBGE. Essa tabela aponta, por exemplo, que, em março, quando muitos estados do Nordeste registraram a menor cobertura dos últimos anos, a região tinha 105% dos benefícios estimados no sistema, ou seja, o Bolsa Família atendia mais do que o esperado pelo modelo do governo, enquanto a fila de espera atingia nível bastante elevado.
Por isso, na hora que o programa foi destravado pela pandemia, a liberação foi maior para o Sul, que tinha, em março, uma cobertura de 73% do parâmetro calculado há dez anos, e o Sudeste, de 84%.
“Isso precisa ser ajustado. O IBGE tem estudos mais recentes. Por exemplo, a Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios], que é menos ampla que o Censo, mas que serviria para reestimar a distribuição da pobreza”, avalia Maurício Bugarin, professor do Departamento de Economia da UnB (Universidade de Brasília) e que já fez um estudo sobre a qualidade do gasto público no Bolsa Família.
Para aprimorar o programa, ele sugere uma ampliação do orçamento. Assim, seria possível criar medidas que estimulem famílias a se tornarem independentes, com acesso a microcrédito e educação financeira.
Com informações da Folha de S. Paulo.