
Leitura não é o forte do presidente Jair Bolsonaro (PL). O mandatário confessou a apoiadores, na manhã de terça-feira (14), enquanto saía do Palácio da Alvorada, que não lê nenhum livro há três anos.
“Desculpa, eu não tenho tempo de ler, não. Tem três anos que não leio um livro. Desde que assumi a Presidência não li mais nada”, disse Bolsonaro quando recebeu um livro de presente de um apoiador. A fala foi gravada e divulgada por um canal simpatizante.
O chefe do Executivo federal alfinetou ainda, como vem fazendo nas últimas semanas, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro. “Eu vi aí um vídeo daquele ministro ele falando que estava lendo biografias. O cara perguntou: ‘Qual a última?’ Ele ficou: ‘Hum…’. Alguém viu esse vídeo aí? Ele não lembrava nem a dele”, debochou Bolsonaro.
Em entrevista ao programa Conversa com Bial, veiculada em 2019 pela Rede Globo, o ex-juiz disse que gostava de ler biografias, mas não foi capaz de citar a última que leu. “A última que eu li de biografia, puxa vida, eu tenho uma péssima memória”, respondeu ele ao ser questionado pelo apresentador.
Depois que se filiou ao Podemos e se autodeclarou pré-candidato ao Palácio do Planalto, o ex-juiz vem recebendo seguidos ataques do presidente da República.
Na terça-feira (14/12), por exemplo, durante um evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse que durante a gestão como ministro, Moro só fazia “intrigas”.
“A Polícia Federal faz o seu trabalho, a PRF [Polícia Rodoviária Federal] nunca teve tanta produtividade depois que nós chegamos. Em especial aquele outro cara, que não fazia operação no estado que interessava para ele. Mesmo com toda a liberdade, nunca mostrou serviço, a não ser também desde o começo do mandato fazer intrigas”, disse o chefe do Executivo, sem mencionar Moro diretamente.
Pobreza literária no Brasil
O hábito da leitura é um impulsionador para diversas melhorias no desenvolvimento infantil, tanto de ordem prática quanto cognitiva. O aumento do vocabulário, a compreensão do texto e a ortografia são exemplos disso. Esse hábito também contribui para que haja várias melhorias emocionais. É o caso do aumento da empatia, o autoconhecimento e a compreensão de outras realidades. No entanto, analisando o índice de leitura no Brasil, a prática ainda é tímida no país.
De acordo com a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, o brasileiro tem uma média anual de 4,96 livro por habitante. Porém, apenas 2,43 desses livros (menos de 3, em média) foram lidos do início ao fim, o que tende a comprometer ainda mais o índice de leitura no Brasil.
Com isso, percebemos que o brasileiro ainda não considera a leitura uma prática diária e esse cenário agrava quando temos um presidente que não incentiva a leitura e dá uma declaração desse tipo.
Qual o impacto?
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) avalia estudantes entre 15 e 16 anos de 77 países. Ao analisarmos as notas, vemos que 50% dos brasileiros tem resultados nível 1 em leitura. Em uma escala de 1 a 6, 1 é o pior índice de desempenho e 6 é o melhor.
Esses dados evidenciam que a compreensão média do brasileiro é literal e tende a se restringir a frases curtas. A falta de abstração também é evidenciada nos resultados de Matemática e Ciências, que são as outras áreas avaliadas pelo programa.
Entre os países cujos jovens têm melhores resultados em leitura encontram-se Finlândia, Canadá e Coréia. Estes 3 países estão no topo da lista de quem lê mais com os seguintes números: a Finlândia tem uma média de 14 livros lidos por ano por habitante; depois. aparecem o Canadá, com 12. e a Coréia, com 10.
Ler é importante
Existem diversos estudos que relacionam a leitura com a possibilidade de liberdade e de entendimento do mundo. O índice de leitura no Brasil também impacta a oportunidade de melhores empregos. Dr. Seuss, famoso escritor dos Estados Unidos da América e autor de mais de 60 obras infantis, falou sobre a importância da literatura:
“Quanto mais você lê, mais coisas irá saber, e quanto mais você aprender, a mais lugares poderá ir.” Dr. Seuss
Setor editorial em crise
Sem surpresas, o mercado editorial brasileiro encolheu 21%, o que corresponde a uma perda de R$ 1,4 bilhões. O impacto da crise econômica na indústria do livro explica somente em parte esse recuo, acredita o presidente da Câmara Brasileira do Livro, Vitor Tavares. Tavares pensa que as mudanças de comportamento e de compra do consumidor nos últimos tempos representam “um grande desafio para o mercado de livros em todo o mundo” e que haverá “um período de grandes transformações nos próximos anos para encontrar caminhos e retomar o crescimento do mercado”.
Enquanto isso, a CBL vai continuar organizando Feiras Literárias e articulando a participação da sociedade na construção de uma política de estado para a leitura. “Estamos atentos, no âmbito da nova realidade da política nacional, ao andamento de programas como os de aquisição de livros didáticos, literatura e obras gerais para alunos e bibliotecas de escolas públicas”. “O Brasil tem ainda um longo caminho a percorrer” nesse setor, concorda Vitor Tavares.