
Foram muitas as reações e declarações de membros do Parlamento à ida do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), junto a um grupo de empresários, ao Supremo Tribunal Federal (STF) no fim da manhã desta quinta-feira (7). Na pauta do encontro – sem prévio agendamento – com o ministro Dias Toffoli, o grupo defendeu o fim do isolamento social e o retorno da atividade econômica no país.
Enquanto a comitiva se reunia no STF, Nelson Teich, da Saúde, argumentava que as medidas de lockdown deveriam ser avaliadas “caso a caso” na Câmara dos Deputados.
Comitiva
Eles estavam acompanhados do ministro da Economia, Paulo Guedes, que, ao fim do encontro afirmou ser porta-voz de um apelo de diferentes setores da indústria.
“Eles vinham dizendo que estavam conseguindo preservar os sinais vitais e agora o sinal que passaram é de que está difícil, a economia está começando a colapsar. E aí não queremos correr o risco de virar uma Venezuela, não queremos correr o risco de virar sequer uma Argentina, que entrou em desorganização, inflação subindo, todo esse pesadelo de volta”, disse o ministro.
Repercussão
Presidente do PSB, Carlos Siqueira, usou as redes sociais para deixar um aviso. “A crise econômica é um debate necessário e sério. Os empresários que foram ao STF com o presidente querem a reabertura do comércio para aquecer o consumo. Mas as pessoas querem viver, e não consumir. Por isso, estão em isolamento social, conforme ditam governadores, segundo a lei”, declarou.
Para o líder do partido na Câmara, Alessandro Molon (RJ), a visita inesperada da comitiva dá ainda mais sinais de que o afastamento do presidente é necessário. “Presidente marchando ao STF, acompanhado de empresários, para pedir o fim do isolamento social? Bolsonaro não deixa dúvidas de que lado está. Para o povo, para as mais de 8 mil mortes, apenas ‘e daí?. É um irresponsável conduzindo um governo criminoso! Impeachment Já!”.
6º no Ranking
Deputado federal pelo PCdoB, Orlando Silva (SP) não poupou críticas ao mandatário, lembrando o que o país bateu seu segundo recorde de mortes registradas em um dia, com 615 novos óbitos, e se tornou o sexto país com mais óbitos no mundo, além de 10.503 novos casos confirmados, chegando à marca dos 125.218 infectados.
“Bolsonaro está fora do prumo ao cumprir papel de animador de milícia digital e não de presidente. Hoje, comandou uma marcha com empresários ao STF para pressionar o Tribunal a rasgar a Constituição e por fim ao isolamento. Lembremos: ontem, o Brasil chorou 615 mortes! Genocida!”, disse.
O mesmo fez a líder do PSOL, Fernanda Melchionna (RS), ao saber da ida de Bolsonaro ao Supremo. “Passamos de 8,5 mil vidas perdidas, mas o governo vai com uma tropa empresarial ao STF, falar sobre as ‘mortes de CNPJs’”, lamentou.
Ações da OMS?
A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) também não deixou por menos. “Bolsonaro pede ao STF que determine o fim do isolamento social, mas até agora o presidente não tomou sequer uma medida para garantir que a retomada não coloque mais vidas em risco. A OMS [ Organização Mundial da Saúde] já recomendou seis ações que todos os países devem tomar antes de reabrir. Quantas cumprimos? ZERO”, alertou.
Terceirização de mortes
Presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire chegou a afirmar que o intuito da ida foi a coação da instituição. “Guedes e Bolsonaro organizaram uma marcha da estupidez e da morte em direção ao STF, com um séquito de empresários, para coagir a Corte, colocar a crise no colo dos ministros e terceirizar suas responsabilidades. No caminho, pisaram nos 8,5 mil mortos que a Covid-19 já deixou”, declarou.
Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) considerou a atitude um novo sinal de desrespeito à democracia. “Bolsonaro desrespeita a Constituição e a autonomia dos Poderes fazendo cena e ‘marchando’ para pedir afrouxamento de medidas de isolamento. Ele é o responsável pelo momento mais grave da pandemia com mais de 8 mil mortos. Ele precisa ler a Constituição, aliás ler e entender”, afirmou, irônico.