
O antropólogo Piero Leirner vê o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como fruto da atuação estratégica e paralela de um grupo restrito de um consórcio de oficiais. Pesquisador do universo militar brasileiro há quase 30 anos, ele deu declararão em entrevista exclusiva ao Poder 360.
Na reportagem, Piero diz que uma espécie de consórcio de generais, que envolve militares da reserva e os que passaram pelo Alto Comando das Forças Armadas nos últimos anos, estaria organizando uma reestruturação do Estado a partir da ocupação de espaços na máquina pública.
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O projeto de poder, como ele define, abrange uma ação coordenada e de longo prazo no sistema político, tocada de forma com que os responsáveis não sejam percebidos como tais.
“É como se fosse uma ‘Pentágono à brasileira’. Uma estrutura de poder infiltrada em espaços do Estado, não só do Executivo, que tem o controle dos fluxos políticos e de capital que estão envolvidos na gerência da máquina estatal”, afirmou.
Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Leirner lançou em 2020 o livro “O Brasil no espectro de uma guerra híbrida: militares, operações psicológicas e política em uma perspectiva etnográfica”.
A presença de militares em posições civis do Estado é vista pelo pesquisador como uma ferramenta para consolidar o projeto de poder na tropa, e vai além da obtenção de cargos e vantagens financeiras.
“É muito mais profundo”, disse.
Levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) de julho de 2020 mostrou que haviam 6.157 militares no governo. No mesmo período, 8.450 oficiais e praças aposentados das Forças Armadas trabalhavam em ministérios, comandos e tribunais militares, contratados por uma modalidade chamada “tarefa por tempo certo”.
“Esses cargos são feitos para consolidar uma estrutura de galvanização e convencimento da própria rede de oficiais militares em torno de um projeto que de certa maneira foi estabelecido por um grupo restrito de oficiais”, afirmou Leirner.
A alegoria que o antropólogo utiliza é a de uma “central de comando e controle”, uma espécie de “Partido Militar” operando sob uma “lógica de guerra”. Segundo Leirner, a organização desse grupo está atualmente no Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Além disso, também fariam parte militares que passaram pela Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), oficiais que atuaram na Amazônia, em Forças Especiais, e no Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx). Bolsonaro teria sido escolhido para encampar o projeto militar, cumprindo o papel de um “incendiário”.
Com informações do Poder 360