
Esta é a quinta matéria da série especial Experiências Socialistas e a segunda sobre a Coreia do Norte. Nesta entrevista exclusiva para o Socialismo Criativo, Lucas Rubio, que esteve na República Popular Democrática da Coreia (RPDC) compartilha sua experiência e nos ajuda a desfazer alguns mitos sobre este país que vivencia constantes mudanças nos cenários políticos, econômicos e sociais.
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Boa leitura!
Confira a entrevista
A Coreia do Norte é um lugar cercado por mistérios. É um país tecnicamente em guerra com a Coreia do Sul, muito fechado e que sofre sanções bem mais pesadas do que Cuba. Para falar um pouco da experiência de conhecer o país, o Socialismo Criativo Entrevista recebe Lucas Rubio, que esteve no país, em 2018.
Para se aprofundar no tema, Lucas fundou o Centro de Estudos da Política Songun do Brasil (CEPS-BR). Ele também é porta-voz da Movimento Juvenil por uma América Latina Independente e graduando em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2018, foi convidado pela Associação Coreana de Ciências Sociais (ACCS) para passar 10 dias no país, onde conheceu fábricas e museus e participou de cerimônias oficiais.
Quando chegou à península ficou impressionado com a organização do país. Diz ter tido a impressão de que a cidade é estruturada para os trabalhadores.
“É um lugar calmo, organizado, com muita disciplina e que parece funcionar em prol das pessoas comuns. Não percebemos uma divisão de classes extrema como tem aqui”, disse.
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“Lá percebemos que as pessoas têm diferentes opiniões e têm espaço para dialogar e discordar”, disse se referindo aos comitês populares. Para ele, os mitos em torno do país são construídos em cima de “meias verdades”.
“Porque quando dizem que os norte-coreanos não têm comida, isso de fato ocorreu, mas foi há 30 anos”, exemplifica.
Em 1994, ano da morte do líder Kim Il-Sung, uma enchente devastadora seguida de uma forte seca devastaram o país. A estimativa é que mais de 250 mil pessoas tenham morrido. Ele foi sucedido por seu filho Kim Jong-Il.
Kim Jong-un
Kim Jong-Un não era sucessor legítimo da dinastia Kim já que era o terceiro na linha sucessória. No entanto, seu irmão mais velho não era considerado apto para o assumir o poder, já que havia sido preso no Japão por andar com um passaporte falso.
Em 2011, após morte de Kim Jong-Il, Kim Jong-Un tornou-se líder da Coreia do Norte. Posto em que se mantém.
Conceitos de liberdade
Na avaliação de Rubio, há liberdade na Coreia do Norte, inclusive para criticar o governo. Ele cita as discordâncias dentro dos comitês populares como exemplo de autonomia das pessoas. E questiona o conceito de liberdade.
“A própria Coreia do Norte se diz uma ditadura, mas uma ditadura de trabalhadores e camponeses. No Ocidente, a gente tem um grande problema em entender o que é liberdade e ditadura. A gente acha que vive numa grande liberdade. Que liberdade é essa onde a gente tem milhões de pessoas sem emprego, metade da população em total desesperança e não sabe se terá alimento no dia seguinte.”
Lucas Rubio
E afirma que, do ponto de vista dos norte-coreanos, eles vivem um outro tipo de autonomia.
“Onde você não tem grandes empresas massacrando as menores, onde não tem corte dos direitos trabalhistas a cada presidente que entra. E, ao mesmo tempo, eles podem olhar pra gente e achar que nós vivemos numa ditadura”, defende.