
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou uma pesquisa sobre o impacto da pandemia da Covid-19 entre profissionais de saúde. De acordo com o levantamento divulgado na segunda-feira (22), a crise sanitária modificou de modo significativo a vida de 95% dos profissionais da área da saúde e quase 50% admitiram excesso de trabalho ao longo da crise sanitária, com jornadas acima de 40 horas semanais.
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A pesquisa “Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil” mostrou que 45% precisam ter mais de um emprego para se manter e que 14% da força de trabalho que atua na linha de frente está no limite da exaustão.
Conforme a consulta, os profissionais estão esgotados, não só por causa da proximidade com o alto número de casos e de pacientes mortos, inclusive colegas, parentes e amigos, mas também por alterações significativas provocadas pela crise sanitária em sua vida pessoal.
O levantamento, classificado pela Fiocruz como o mais amplo sobre as condições de trabalho dos profissionais de saúde desde o início da pandemia, analisou o ambiente e a jornada de trabalho, o vínculo com a instituição, a vida do profissional na pré-pandemia e as consequências do atual processo de trabalho, envolvendo aspectos físicos, emocionais e psíquicos desses trabalhadores.
Realidade dos profissionais da saúde
Segundo a coordenadora do estudo, Maria Helena Machado, após um ano de caos sanitário, a pesquisa retrata a realidade dos profissionais que estão na linha de frente, marcados pela dor, sofrimento e tristeza, com fortes sinais de esgotamento físico e mental.
“Trabalham em ambientes de forma extenuante, sobrecarregados para compensar o elevado absenteísmo. O medo da contaminação e da morte iminente acompanha seu dia a dia, em gestões marcadas pelo risco de confisco da cidadania do trabalhador, [medo de] perdas dos direitos trabalhistas, terceirizações, desemprego, perda de renda, salários baixos, gastos extras com compras de EPI [equipamentos de proteção individual], transporte alternativo e alimentação”, disse.
De acordo com a pesquisa, 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos ao enfrentarem a Covid-19.
Para 23% deles, o principal motivo desse temor está relacionado com a falta, escassez e inadequação do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Entre esses trabalhadores, 64% destacaram a necessidade de improvisar equipamentos.
O medo generalizado de se contaminar no trabalho foi apontado por 18% dos entrevistados; a falta de estrutura adequada para realização da atividade, por 15%; e fluxos de internação ineficientes, por 12,3%. Além disso, 11,8% citaram o despreparo técnico dos profissionais para atuar na pandemia e 10,4% denunciaram a insensibilidade de gestores para suas necessidades profissionais.
Saúde mental
A Fiocruz alertou também para o impacto da pandemia do coronavírus na saúde mental dos profissionais de saúde. Segundo a pesquisa, as alterações mais comuns citadas pelos profissionais foram perturbação do sono (15,8%), irritabilidade e distúrbios em geral (13,6%), estresse (11,7%), dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%), pensamento negativo ou suicida (8,3%) e alteração no apetite e do peso (8,1%).
Quase um quarto (22,2%) dos participantes classificou o trabalho como extenuante. O estudo apontou ainda que 14% da força de trabalho que atua na linha frente de combate à covid-19 no Brasil está no limite da exaustão.
Com informações do DW Brasil