
Com o Programa Nacional de Imunização contra a Covid-19 empacado no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a citar medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus e adotou um tom irônico ao falar sobre a vacinação. Durante a tradicional live semanal, nesta quinta-feira (22) à noite, o chefe do Executivo exagerou números de vacinados no país e mentiu sobre a condução da crise do coronavírus em Manaus (AM). A transmissão contou com a participação dos ministros Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
“É impressionante como só se fala em vacina, né? Mas também, uma compra bilionária, no mundo todo, então é só vacina. Ninguém é contra a vacina. O Brasil, tirando os países que produzem vacinas, é primeiro no mundo em valores absolutos [de doses aplicadas]”.
Jair Bolsonaro
Brasil não lidera vacinação contra a Covid-19
Bolsonaro faltou com a verdade. Em números absolutos, o Brasil é hoje o quarto país que mais aplicou doses de vacina, atrás dos Estados Unidos, Índia e Reino Unido, segundo dados coletados até quarta-feira (21) pela plataforma Our World in Data. Essa não é a melhor forma de se avaliar a eficácia da logística de imunização, considerando a enorme população brasileira. Em termos proporcionais, o Brasil é apenas o 9º, atrás de países como Israel, Chile, Bahrein, Hungria, Uruguai e Sérvia.
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Defesa de tratamento ineficaz contra Covid-19
O presidente voltou a defender o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento da Covid-19. Ele exaltou os estudos feitos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações com o antiparasitário nitazoxanida (“Annita”) e se referiu à hidroxicloroquina, mas sem citar o nome — ambos medicamentos não têm eficácia comprovada contra a doença causada pelo coronavírus. Ele ainda citou um remédio nacional desenvolvido especificamente para o tratamento da Covid-19 que deve entrar na fase de testes clínicos “muito em breve”.
Após o anúncio, Bolsonaro pediu que Pontes tivesse “cuidado” com as palavras porque, caso contrário, a transmissão poderia ser derrubada pelo Facebook. É que a rede social passou a remover conteúdos que incentivem tratamentos ineficazes contra o coronavírus, como é o caso da nitazoxanida, da ivermectina e da cloroquina. Esta última, inclusive, também teve seu nome omitido pelo presidente durante a live — justamente para evitar que a transmissão fosse excluída pelo Facebook.
Efeito CPI da Pandemia
Não é a primeira vez que Bolsonaro omite nomes de remédios, sob a alegação de não quer sofrer possíveis retaliações — seja das redes sociais, seja de outros políticos. Além de uma recente decisão da Justiça que proibiu a União de veicular campanhas que contradizem a ciência, o presidente tem pela frente a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia , que vai investigar a atuação do governo federal no combate à Covid-19.
O presidente voltou a dizer que o “Supremo Tribunal Federal determinou que estados e municípios poderiam ficar à vontade para tomar todas medidas para combater o vírus”, omitindo que a decisão do STF, embora concedesse autonomia a governadores e prefeitos, não eximiu o governo federal de adotar medidas contra o coronavírus.
Com informações do UOL