
Em um depoimento com sete horas de duração, a médica infectologista Luana Araújo afirmou que “estamos na vanguarda da estupidez” à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado, nesta quarta-feira (2). Ela foi rechaçou o tratamento precoce, que em sua avaliação, sequer deveria ainda ser discutido. Em resposta aos trabalhos da comissão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fará pronunciamento em rede nacional às 20h30, mesmo horário dos panelaços convocados.
A infectologista apontou o diagnóstico precoce dos pacientes como a principal urgência no combate à pandemia. “Existe uma dificuldade das pessoas compreenderem a diferença entre abordagem precoce de um paciente e o tratamento precoce. Um paciente com suspeita de Covid-19 precisa ser abordado precocemente”, explicou.
Ela defendeu diagnóstico imediato e educação sobre as medidas de isolamento social. “E precisa ser monitorado, principalmente, contra uma situação que é a queda da saturação nos níveis de oxigênio do sangue da pessoa sem que ela perceba”, afirmou Luana.
Infectologista critica discussão ilógica
Durante o depoimento, ela criticou a discussão ainda girar em torno de tratamento precoce para a doença, descartado pela ciência ainda em 2020. “Ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se estivéssemos discutindo de que borda da terra plana vamos pular. Não tem lógica”, criticou.
Indicada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. Porém, 10 dias depois foi informada que não poderia tomar posse no cargo.
Luana Araújo relatou ter sofrido diversas ameaças durante a pandemia e que, após ter sido nomeada e afastada de função no Ministério da Saúde, chegou a ter seu endereço divulgado na internet. Posições da infectologista contrárias ao tratamento precoce e à cloroquina, defendidos por Bolsonaro e comprovadamente ineficazes contra o vírus, foram divulgadas em reportagens.
Operação policial
Ainda nesta quarta-feira, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), anunciou a antecipação do depoimento do governador do Amazonas, Wilson Lima, para 10 de junho. O depoimento dele estava previsto somente para o fim do mês, no dia 29.
Mas a operação deflagrada pela Polícia Federal, para investigar desvios de recursos destinados ao combate à pandemia no estado, fez a CPI antecipar. Buscas e apreensões foram realizadas na casa de Wilson Lima e o secretário de Saúde do estado, Marcellus Campêlo, que estava foragido, foi preso.
Requerimentos adiados
Com a duração do depoimento da infectologista Luana Araújo, os parlamentares decidiram adiar a votação de cinco requerimentos. O primeiro é de convocação do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo. Ele vai ter que explicar quais medidas foram tomadas para garantir a segurança sanitária dos brasileiros e das delegações estrangeiras durante a realização do evento. O requerimento de convocação é de autoria do vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Também foi adiada a votação de quatro requerimentos de Omar Aziz relacionados ao depoimento da médica Nise Yamaguchi. Os documentos pedem todos os registros de voo nas empresas Latam, Gol e Azul entre março de 2020 e maio de 2021 de Nise Yamaguchi, e de seus irmãos Naomi Greice Yamaguchi e Charles Takahito. Os registros requeridos são referentes a voos de ida ou volta entre São Paulo e Brasília.
Outro requerimento de Aziz pendente de votação solicita que o Ministério da Saúde preste informações sobre eventuais contratos e repasses de recursos entre a pasta e pessoas jurídicas que tenham como sócia ou parte Nise Yamaguchi, no período de março de 2020 a maio de 2021.
Bolsonaro quer rebater CPI
O presidente Jair Bolsonaro avisou às emissoras de rádio e TV que fará um pronunciamento em rede nacional às 20h30, desta quarta-feira (2). O discurso deve durar cerca de 5 minutos e, segundo interlocutores, o presidente usará esse tempo para falar sobre vacinação contra a Covid-19 e “dar uma resposta” à CPI Pandemia, que vem apurando as omissões de seu governo no combate à Covid-19.
O pronunciamento foi convocado 4 dias após as manifestações massivas que tomaram cidades de todo o país pedindo a saída de Bolsonaro da presidência. Nas redes sociais, assim como ocorreram em outros discursos do presidente, internautas, políticos da oposição e ativistas já vêm convocando “panelaços”.
Com informações do Uol, Agência Senado, Fórum e Brasil de Fato