
Após as demissões dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa), a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Izabel Lima Pessoa — um dos cargos mais importantes da pasta —, pediu demissão. É a 5ª vez que o posto fica sem titular desde o início do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Izabel estava no cargo desde agosto de 2020, quando seu nome foi anunciado pelo ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, assim que assumiu a pasta.
Disputa ideológica no MEC
De acordo com a Folha, a mudança abre uma disputa com a ala ideológica que atua dentro do MEC, liderada pelo secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim. Aluno do escritor Olavo de Carvalho, Nadalim trabalhava internamente para enfraquecer Izabel Pessoa no cargo.
O pedido de demissão foi atribuído a problemas pessoais — a secretária perdeu recentemente o marido para a Covid-19. Interlocutores no MEC dizem, contudo, que o drama pessoal apenas catalisou o clima de disputa dentro da pasta.
Houve atritos recentes relacionados ao Livro Didático, à manutenção de apoio para implementação da Base Nacional Comum Curricular e à transferência para o MEC nas discussões para reformular o Índice de Desenvolvimento da Educação BásicaI (Ideb), sempre calculado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
No livro didático, a equipe de Nadalim conseguiu alterar um edital, que tirou tópicos como de violência contra a mulher dos critérios de exclusão de obras. Garantiu ainda a nomeação para coordenação da área uma professora alinhada ao Escola Sem Partido, como a Folha revelou.
A saída de Ernesto Araújo do Itamaraty também deu combustível para a ala ideológica em busca de espaço no governo. Araújo é também do grupo de olavistas.
Prioridade (só que não)
O governo de Bolsonaro elencou a agenda educacional como prioridade em sua campanha, mas o que se viu na pasta foi a redução de recursos, trocas de ministros e um maior protagonismo de pautas ideológicas.
Em 2020, o MEC registrou o menor gasto com educação básica da última década. O ministério gastou R$ 48,2 bilhões na educação básica no ano passado. O valor é 10,2% menor do que em 2019 e o menor desde 2010.
O cenário aparece em relatório de acompanhamento da execução orçamentária do ministério realizado pelo Movimento Todos Pela Educação. Os dados são do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) com atualização pela inflação. A pasta encerrou o exercício de 2020 com a menor dotação desde 2011, de R$ 143,3 bilhões.