
Policial militar aposentado e bolsonarista fervoroso, o deputado federal Sargento Fahur (PSD-PR) ameaçou e ofendeu o ministro da Justiça, Flávio Dino, durante audiência na Câmara com representantes da indústria armamentista nesta quinta-feira (9).
Gritando e falando de “coronhada em cabeça de vagabundo”, Fahur se exaltou ao criticar as políticas que vêm sendo adotadas pelo governo Lula no sentido de restringir o acesso às armas de fogo – uma resposta ao “libera geral” encampado por Bolsonaro – e atacou o ministro.
“Como eu, que passei minha vida dando tiro e coronhada em bandido, vou andar desarmado? (…) Flávio Dino, vem buscar minha arma aqui, seu merda!“, disparou o deputado.
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No mesmo evento pró-armas, estavam presentes os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Sanderson (PL-RS), Marcos Pollon (PL-MS), Julia Zanatta (PL-SC), Rafael Pezenti (MDB-SC), Capitão Alden (PL-BA), Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), Sargento Gonçalves (PL-RN), Silvia Waiãpi (PL-AP), Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), entre outros.
Assista à ameaça feita contra Dino pelo bolsonarista a partir de 1h21m42seg do vídeo abaixo
PSB reage
O PSB, partido de Flávio Dino, reagiu à ameaça de Fahur e informou que vai entrar com uma representação no Conselho de Ética da Câmara pedindo a cassação do bolsonarista.
Veja abaixo a íntegra da nota
“A bancada do PSB na Câmara repudia as falas do deputado Gilson Cardoso Fahur (PSD-PR), que fez uso de um evento nas dependências da Câmara dos Deputados para ameaçar o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, nesta quinta-feira (9). “É inaceitável que, sob a crença de que sairão impunes pelo quesito da imunidade parlamentar, deputados federais sintam-se livres para cometer crimes contra a vida de outras pessoas ou incitar o ódio e saiam impunes. Flávio Dino é uma figura pública que vem atuando incansavelmente pela pacificação do Brasil, contra a violência e em defesa da democracia. A bancada do PSB na Câmara não vai admitir esse tipo de ameaça e tomará as medidas cabíveis para que o parlamentar responda por seus atos”
PSB quer endurecer regras sobre armas no Brasil
A bancada do PSB apresentou na Câmara dos Deputados um projeto de lei que altera o Estatuto do Desarmamento. Segundo a proposta, os caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) devem informar à Polícia Federal (PF) sobre roubo, furto ou extravio de arma de fogo, em até 24h. Caso contrário, podem responder por omissão de cautela.
A omissão de cautela é quando não se adotam as medidas necessárias para o armamento não parar nas mãos de menores de 18 anos ou pessoas com deficiências mentais. A pena é detenção de um a dois anos e cobrança de multa.
“O número de armas furtadas, roubadas, extraviadas ou perdidas pertencentes a CACs aumentou 35,9% em 2021 em relação ao ano anterior”, dizem os parlamentares.
O projeto tramita na Câmara e deve passar pela Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e pela CCJ.
Perdas, furtos e roubos à armas de CACs cresceram 76% na gestão Bolsonaro
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), os CACs tiveram mais de 3,5 mil armas de fogo perdidas, furtadas ou roubadas no Brasil. Só em 2022, foram 1.215 ocorrências desse tipo. O número é 75,8% maior do que em 2018, antes de Bolsonaro assumir a gestão federal.
Os dados do Exército Brasileiro, obtidos pelo Metrópoles por meio de Lei de Acesso à Informação (LAI), ainda apontam que a maior parte dos extravios de armas registrados no período corresponde a furtos e roubos. Em 2022, as perdas representaram apenas cerca de 15% dos casos.
De acordo com o gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, os números refletem medidas do governo Bolsonaro que resultaram no aumento do acesso a armamentos pela população civil. O rol de ações inclui desde a facilitação ao acesso até o aumento do número máximo de armamentos e munições permitido para cada pessoa.
De 2018 a 2022, o número de registros ativos de Caçadores, Atiradores e Colecionadores cresceu 473,6%, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Com mais gente tendo armas e tendo mais armas, era esperado que houvesse um número maior de desvios. Então, esses números não surpreendem”, avalia Bruno Langeani.
PSB e a Segurança Pública
De acordo com o Programa e Manifesto do PSB, na Segurança Pública é necessário identificar que, no cenário político mais amplo “há claras dificuldades em se conjugar a realidade social com medidas preventivas e repressivas e acabar com o falso antagonismo entre segurança pública e direitos humanos”.
Desta forma, o partido se opõe “fortemente às políticas armamentistas que visam a facilitar o acesso a armas de fogo para a população civil, considerando que, numa democracia, o monopólio da violência é prerrogativa exclusiva do Estado Democrático de Direito”, consta no documento socialista.
Durante debate sobre o novo governo, a diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Isabel Seixas de Figueiredo, se reuniu com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, pois segunda ela, possivelmente é o que possui “maior experiência acumulada em gestão de Segurança Publica no Brasil”.
Isabel prossegue afirmando que o PSB pode fazer a diferença na Segurança Pública porque tem “experiência acumulada, um importante legado que pode ser muito importante para uma visão estratégica da Segurança Pública”, afirmou. A especialista se refere às experiências de gestão que se iniciaram com o Pacto pela Vida em Pernambuco quando Eduardo Campos era governador daquele estado.
Depois o primeiro governo de Renato Casagrande no Espirito Santos implantou, nos mesmos moldes, o programa Estado Presente. E nos governos de Ricardo Coutinho na Paraíba, Rodrigo Rollemberg no Distrito Federal e Flavio Dino no Maranhão seguiram na mesma linha. Concordando com Isabel, o presidente Carlos Siqueira disse que o partido nunca capitalizou politicamente essas experiências por duas razões: primeiro porque os programas dos estados tomaram nomes diferentes e depois por deficiências na própria comunicação do PSB.
Segurança Pública é tema de live no Socialismo Criativo. Assista: