
As tensões políticas entre EUA e China dizimaram os investimentos no setor de tecnologia entre os dois países, à medida que as duas maiores economias do mundo tentam desacoplar suas cadeias de abastecimento, de acordo com um relatório recente.
Segundo reportagem do Valor Econômico, entre 2016 e 2020, o investimento direto geral entre os dois países caiu 75%, de US$ 62 bilhões para US$ 16 bilhões, com o setor de tecnologia sozinho caindo 96% no período, de acordo com o último relatório anual de tecnologia da Bain and Co. divulgado na segunda-feira (20).
Os investimentos da China para os Estados Unidos caíram muito mais acentuadamente do que os da direção oposta devido à repressão de Washington contra empresas chinesas, criando incertezas geopolíticas para os negócios, disse Anne Hoeker, sócia da Bain & Co. que liderou a pesquisa.
“O ambiente de negócios para as empresas chinesas nos Estados Unidos ficou provavelmente um pouco menos seguro do que antes, e os chineses apenas voltaram seu foco para investimentos na Europa e na África.”
Anne Hoeker
Investimento da China nos EUA cai
O investimento direto geral da China nos Estados Unidos diminuiu para apenas US$ 7,2 bilhões em 2020, de US$ 48,5 bilhões em 2016. O investimento americano na China caiu 35%, para US$ 8,69 bilhões no mesmo período. O declínio foi mais acentuado nas áreas de tecnologia, imóveis e saúde, mostraram os dados do Centro de Investimentos Estados Unidos-China.
Várias economias importantes estão investindo mais do que nunca em sua própria tecnologia e independência da cadeia de suprimentos, disse Hoeker, o que não era uma questão importante apenas alguns anos atrás, quando o principal tema para os líderes empresariais dos Estados Unidos era como acessar o mercado chinês.
Hoeker disse ainda que as interrupções na cadeia de abastecimento trazidas pelo covid-19 e a escassez sem precedentes de semicondutores adicionaram combustível a essa tendência, tornando o desacoplamento de tecnologia um problema para economias além dos Estados Unidos e da China.
O relatório da Bain foi divulgado um pouco mais de uma semana após a segunda ligação do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para o presidente chinês, Xi Jinping, uma conversa de 90 minutos em 9 de setembro. Apesar das negociações, as tensões entre os dois países mostraram poucos sinais de melhora desde que Biden assumiu a Casa Branca, em janeiro.
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Competição tecnológica
As práticas comerciais e a competição tecnológica continuam sendo dois pontos chave de discórdia entre as duas potências globais. Os Estados Unidos colocaram na lista de banimento 168 empresas chinesas, incluindo a Huawei e suas dezenas de afiliadas, entre 2018 e abril deste ano, de acordo com uma análise anterior do “Nikkei Ásia”, a maioria delas relacionadas à tecnologia.
A repressão de Washington à Huawei, por sua vez, levou a um esforço nacional na China para construir uma cadeia de fornecimento de semicondutores doméstica completa, de designs e materiais de chips a equipamentos de produção e fabricação de desses componentes.
A atual escassez global de chips estimulou ainda mais as principais economias a construir suas próprias cadeias de suprimentos e trazer mais produção vital de semicondutores para casa, tanto por razões econômicas quanto de segurança nacional.
Novas cadeias de abastecimento regionais começaram a surgir fora da China menos de mil dias depois de Washington ter imposto sua primeira onda de tarifas punitivas às importações chinesas em 2018, quando as empresas começaram a ver o desacoplamento como uma tendência irreversível.
Gigantes da tecnologia americana como Apple, Google, Amazon e Microsoft pediram aos fornecedores que construíssem capacidade fora da China devido à incerteza geopolítica.
Hoeker, da Bain disse que a tendência de desacoplamento veio para ficar, mas acrescentou que será um processo muito longo e que é improvável que as cadeias de abastecimento sejam totalmente separadas.
O relatório disse que há incertezas “massivas” pela frente e os líderes empresariais devem ser capazes de navegar pelos riscos geopolíticos, planejar com cautela e investir mais recursos para impulsionar as relações governamentais e as equipes de comércio global.
As empresas também terão que entender os gargalos específicos de suas cadeias de abastecimento – onde dependem de um país ou de uma única fonte de fornecedor – e tentar qualificar novos fornecedores para adicionar resiliência e revisar regularmente seus planos de longo prazo , Hoeker acrescentou.
Com informações do Valor Econômico